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Informação também mata


Por Fernando Molica em 19 de maio de 2014 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 12/5/2014:

Quando eu era criança, o padrão de verdade era a Rádio Relógio, emissora que alternava a narração de curiosidades com a divulgação da hora oficial. Dizer que o relógio de pulso fora acertado com base na emissora era suficiente para encerrar qualquer discussão relacionada a minutos e segundos. Jornais, noticiários de rádios e o Repórter Esso vinham logo atrás no quesito credibilidade. Afirmar algo como “Isto deu no jornal” conferia à informação uma aura de respeitabilidade, avalizava o que fora contado.

Até boatos se socorriam daquilo que viria a ser chamado de mídia. A citação de programa de TV ou de rádio como fonte de determinada história era importante para respaldá-la. Nem tudo o que era publicado poderia ser chamado de verdadeiro, mas, como no caso dos vinhos, a existência de uma denominação de origem facilitava muito a tarefa de convencer o interlocutor. Isso, porém, não impedia que fofocas ganhassem corpo sem a ajuda de qualquer suporte, que o diga Glória Maria, transformada em testemunha do tiro que Tancredo Neves jamais levou.

A internet bagunçou de vez o coreto. A expressão “Deu na internet” passou a ser utilizada para conferir fumos de veracidade aos maiores absurdos. Incontrolável, a rede de computadores, com sua infinidade de blogs, redes sociais e correntes disparadas por e-mails, aceita tudo o que é escrito. Nem todo mundo tem o cuidado de conferir se aquela informação está num site confiável ou se foi arremessada com a mesma irresponsabilidade de quem joga uma privada ou lança um rojão no meio de uma concentração de pessoas.

Para muitos, a simples exposição de frases numa tela de computador é suficiente para transformá-las em verdadeiras. Informação errada é capaz de matar, tem a mesma capacidade letal dos tiros, porradas e bombas citados naquele funk. Foi uma reportagem que, embora falsa, deflagrou a ação dos assassinos que, no Guarujá, lincharam a dona de casa Fabiane Maria de Jesus.

O crime foi cometido pelos agressores, mas o responsável pela divulgação da mentira e de um retrato falado requentado sabe que colaborou para a tragédia. Em tempos de tantas notícias, vale redobrar os cuidados com que é dito ou publicado.

Isto, no caso de veículos tradicionais — jornais, rádios e TVs –, mas também, e principalmente, em relação aos que ainda precisam mostrar serviço, que surfam na onda deste mais do que admirável, fascinante e assustador mundo novo. Muitas vezes, novidades sofrem de envelhecimento precoce.

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