Ópera de Julio Reis chega a Portugal
Por Fernando Molica em 27 de julho de 2024 | Comentários (0)
Amanhã, domingo, a ópera ‘Sóror Mariana’, de Julio Reis (1863-1933), meu bisavô, fará sua estreia em Portugal. Além de ser importante em si – não é comum uma ópera brasileira ser montada na Europa -, o fato é particularmente importante pra mim.
Composta em 1920, ‘Sóror Mariana’ ficou inédita por 98 anos, só subiu a um palco em 2018, no Festival de Ópera do Paraná. O diretor do evento, Gehad Hajar, soube de sua existência ao ler meu romance ‘O inventário de Julio Reis’, publicado pela Editora Record, em 2012).
Nele, narro a luta de JR, um compositor paulista radicado no Rio, para tentar fazer com que sua obra fosse montada.
Agora, 104 anos depois de criada, a ópera será vista em Portimão, no Algarve. A história é ainda mais curiosa porque a protagonista, Mariana do Alcoforado (1640-1723), foi uma freira portuguesa, personagem importante na história do país que, séculos depois de sua morte, seria associada à luta feminista.
Sem vocação para a vida religiosa, Mariana viveu, no convento de Beja, um amor clandestino com um oficial francês, que a abandonaria. Ela contaria a história em cartas – as ‘Cartas portuguesas’ seriam publicadas em livro na França.
JR soube da trama ao ler a peça ‘Sóror Mariana’, do escritor português Júlio Dantas. Interessado em compor uma ópera sobre o tema, trocou correspondência com ele, que o autorizou a levar seu projeto à frente.
Agora, 91 anos depois da morte de JR, Mariana atravessa de volta o oceano e será levada ao palco pela Academia de Música de Portimão, no Teatro Municipal da cidade.
Ainda adolescente, soube da existência de JR por seu filho, meu avô Frederico Mário, que tanto procurou divulgar a obra do pai. Depois de sua morte, herdei o acervo de JR, também jornalista. Demorou um bom tempo para que eu decidisse escrever um romance baseado naquelas histórias.
O livro gerou algumas boas notícias: o pianista @joaobittencourtmaestro gravou um CD com obras de JR, o maestro @brancobernardes incluiu o poema sinfônico ‘Vigília d’Armas’, também de meu bisavô, numa apresentação da Orquestra da UniRio. ‘Sóror Mariana’ foi para Curitiba, agora chega a Portugal. Depois da publicação do livro, doei o acervo de JR para a Biblioteca Nacional.