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A exclusão da democracia


Por Fernando Molica em 17 de agosto de 2016 | Comentários (0)

É impressionante como políticos teimam em desqualificar a política. O Freixo, goste-se ou não dele, representa uma parcela importante da opinião pública do Rio de Janeiro. Deixá-lo de fora de debates de TV com base numa lei que contou com o apoio explícito do Eduardo Cunha não prejudica apenas o candidato e os simpatizantes do Psol, é algo que compromete a legitimidade de todo o processo político-eleitoral.

O mesmo vale para a Erundina, do mesmo Psol, em São Paulo. O mesmo valeria para o Bolsonaro caso o partido dele não tivesse os tais nove deputados federais exigidos pela nova lei.

Políticos – mesmo os piores, os mais safados, os mais corruptos – precisam entender que é preciso manter um mínimo de representatividade na prática política. Isto, até para que eles continuem a saquear o estado. Sem política não há políticos.

Os sucessivos atentados à credibilidade do regime representativo podem, num curto prazo, favorecer grupos que estejam no poder. Mas, logo ali na frente, tanto feitiço se voltará contra os feiticeiros, é só consultar qualquer livro de história. Os golpes no processo democrático alimentam a desconfiança do eleitor e estimulam a busca de soluções autoritárias.

As manifestações de 2013 e 2014 revelaram um profundo descrédito em relação ao quadro institucional do país. O processo de deposição de Dilma Rousseff aprofundou a radicalização e a intolerância, uma situação que não é favorável nem mesmo para os vencedores – as batatas que marcam sua vitória lhes chegam quentes, capazes de, logo depois da próxima curva da história, queimar carreiras e projetos.

Não dá pra vencer tudo no tapetão, não dá pra replicar iniciativas da ditadura com leis que, como o Pacote de Abril do Geisel, interferem no processo eleitoral. A democracia nos moldes como a conhecemos se baseia na representatividade do voto e no respeito ao resultado das urnas.

Esses, insisto, sucessivos atentados à representação política tendem a excluir do processo forças importantes que, defenestradas, podem se transformar até mesmo em ameaças ao jogo democrático. Na Colômbia, o extermínio de lideranças de esquerda e seu banimento do processo político-institucional tiveram peso decisivo na criação e fortalecimento da guerrilha algo que, por sua vez, gerou os grupos paramilitares.

Muitos políticos que, aqui no Brasil, colaboraram para o Golpe de 1964, tiveram suas carreiras interrompidas. Não se pode brincar com algo tão sério, há sempre o risco de muita gente desistir de participar da brincadeira.

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