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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

Admirável mundo novo


Por Fernando Molica em 12 de maio de 2008 | Comentários (0)

Na última sexta-feira cumpri um ritual que renovo a cada ano: assistir, durante os congressos da Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – a uma palestra do Rosental Calmon Alves, diretor do Knight Center for Journalism, da Universidade do Texas. Desta vez, a conversa foi em Belo Horizonte, e tinha como tema a (re) construção do jornalismo para a era digital.

Saí da sala com um misto de susto e entusiasmo. O Rosental tem toda a razão quando diz que passamos não por um processo de evolução, mas por uma revolução no modo de produzir e veicular informações. Perdemos, nós, jornalistas, o monopólio deste processo – graças à internet, qualquer um tem capacidade para apurar e publicar informações que podem ser lidas no mundo todo. Quando vejo o sucesso de alguns blogs (o “Estadão” de ontem trouxe matéria espetacular sobre uma blogueira cubana, a Yoani Sánchez Cordero), chego a rir da dificuldade que tínhamos, no início dos anos 80, para produzir uma simples edição do jornal-laboratório da Escola de Jornalismo da UFRJ.

Em suma: as tiragens dos jornais norte-americanos caem a cada ano, as audiências dos telejornais de rede também desabam (a idade média do público desses programas envelheceu, varia de 55 a 60 anos), banhos de sangue irrigam redações obrigadas a diminuir de tamanho. Em compensação, surgem alternativas na internet que mudam a ampliam os horizontes – rádios, quem diria?, passam a colocar fotos em seus sites (rádio com imagem!?!), sites informativos criados por não-jornalistas são consumidos com voracidade (exemplo, o Huffingtonpost), a lógica do emissor-consumidor é substituída pela idéia de redes de informação, a publicação de um jornal em papel começa a ser vista como apenas a parte final e consolidada de um processo de divulgação de notícias.

Assustador? Claro que sim. Até porque, como cantava o Lobão, quem é que vai pagar por isso? Como sustentar uma rede de coleta e processamento de boas informações diante de um cenário que ameaça toda a estrutura dos tradicionais veículos de comunicação? As tentativas são inúmeras, empresas do ramo tentam manter na internet o peso de suas marcas, de suas assinaturas, buscam ressaltar o valor de sua credibilidade. Resta saber como o mercado publicitário vai acompanhar este processo e mesmo como o público vai reagir à idéia de continuar pagando por informações que, a cada dia, se acostuma a receber gratuitamente.

É meio maluco entregar o destino à lógica do mercado, à capacidade de reinvenção do capitalismo, mas não há muitas saídas. O negócio é não perder o bonde, tentar acompanhar essa revolução, buscar influenciá-la, não deixá-la fugir. E, claro, comemorar a chegada de tempos em que enfim se inverte uma lógica de monopólio da fala.

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