Brincar com o bumbum
Por Fernando Molica em 19 de dezembro de 2017 | Comentários (0)
Concordo com aqueles que destacam, no novo clipe da Anitta, a presença do universo da favela e uma postura feminista. Mas friso um outro ponto, uma apenas aparente contradição entre os universos infantil (presente na melodia e no arranjo) e o adulto (representado pela letra e pelas imagens).
Ouvida sem as palavras, a canção lembra as compostas para um público infantil – melodia simples e repetitiva, marcação insistente, feita por som semelhante ao de instrumento de sopro e que faz lembrar o uso da tuba em bandas do interior.
Ao “pom, pom, pom” da marcação foram acrescentadas imagens e letra forte insinuação sexual (“Desce, rebola gostoso/ Empina me olhando/ Te pego de jeito”). Uma combinação que apenas parece não fazer muito sentido.
Mas o verso que fala em brincar com o bumbum indica que não há contradição. Embora não haja crianças nas imagens, a união entre os universos adulto e infantil não foi por acaso. Brincadeira e bumbum remetem ao imaginário de crianças, mas brincar com bumbum é para adultos.
‘Vai malandra’, como produto cultural representativo do seu tempo e do seu lugar, ressalta, entre outras características do país, uma realidade de adultos presos a uma estética musical infantil e de crianças que se acham adultas. Fará sucesso nas festas de todas as faixas etárias.