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O gosto que não se discute


Por Fernando Molica em 12 de maio de 2011 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O Dia, 11/5:

A qui entre nós: a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a união estável entre gays apenas reconhece algo que já havia na sociedade. Homossexuais existem desde que o mundo é mundo, e isso nunca dependeu de leis ou de autorizações judiciais. São pessoas como quaisquer outras, que estudam, trabalham, pagam seus impostos. Têm, portanto, o direito de se unirem com quem bem entenderem e de desfrutarem de um mínimo de segurança institucional. Não custa ressaltar que a decisão judicial não obriga ninguém a se unir a uma pessoa do mesmo sexo, vai quem quiser.

Reconhecer a diferença em relação à orientação sexual não é lá muito constrastante como a admissão de outras particularidades. Somos todos iguais e diferentes: na aparência, nos gostos, nas vocações profissionais, na preferência por um time de futebol ou por um candidato a presidente da República. Gostamos de ser aceitos como somos, não custa retribuir do mesmo jeito. Tenho que aceitar quem cultiva gostos que me soam estranhos, como torcer para o Flamengo, ouvir música sertaneja ou frequentar micaretas. Todos merecem ser respeitados. Isto vale também para quem vê um lugar diferente para colocar o seu desejo. O problema não é meu — cada um com seu cada um, ou com cada uma, sei lá.

Na ânsia de discriminar, tem gente que se escandaliza mais com o casamento gay do que com um bando de corruptos reunidos em um governo. Há pessoas que convivem bem com a miséria, mas se horrorizam diante de um beijo entre personagens homossexuais numa novela. Há os que não cansam de criticar as diferenças sociais no Brasil, mas se arrepiam ao ouvir falar em cotas para negros em universidades. Quem é mais velho lembra da aparentemente interminável polêmica em torno da instituição do divórcio. Dizia-se que sua adoção acabaria com a família, com a sociedade, com o País. As previsões, claro, não deram certo.

Muitos reclamam de um eventual excesso de exposição de temas relacionados a homossexuais na TV, nas revistas e nos jornais. É possível que haja um exagero, mas isto é causado pela própria intolerância e falta de uma legislação mais compatível com a realidade social. O tema deixará de ocupar tanto espaço na medida em que seja absorvido e naturalizado. Talvez aí possamos nos dedicar a problemas que afetam a todos, hétero ou homossexuais. Questões como a miséria, as injustiças e a falta de oportunidades iguais.

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