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O Rio de Janeiro já nasceu torto


Por Fernando Molica em 20 de outubro de 2010 | Comentários (0)

Estação Carioca de hoje, em “O Dia”.

A cidade do Rio de Janeiro é curiosa até na geografia. Alguém aí já reparou que não temos Zona Leste? Pior: quem tentar encontrá-la corre o risco de morrer afogado. Se usarmos o Centro como referência, notaremos que nossa Zona Leste fica na Baía de Guanabara, na direção de Niterói. Ao contrário da grande maioria das cidades, o Rio não cresceu em círculos, não avançou em todas as direções.

O centro geográfico da cidade, basta conferir no mapa, fica num ponto entre Jacarepaguá, Vargem Grande e Senador Camará — no que chamamos de Zona Oeste. Já o Centro da cidade que identificamos como tal está na ponta leste do nosso território.

O resultado deste estrabismo geográfico é que, pela Avenida Brasil, 70 quilômetros separam dois extremos do Rio, as avenidas Átila Temporal, em Santa Cruz, e a General Justo, no tal do Centro. Deste último ponto até a Rua Dias Ferreira, num cantinho do Leblon, são apenas 14 quilômetros.
Ao longo dos anos, a cidade rica seguiu as praias e caminhou em direção ao sul. Quem não foi neste rumo foi obrigado a subir morros ou, em sua maior parte, a acompanhar os trilhos para as áreas norte e oeste. Com o aumento da população, as distâncias foram sendo esticadas, e o transporte não melhorou. Enquanto isso, o Centro, tão longe de alguns bairros, se consolidou como principal referência do Rio. Nele e no seu entorno foram se concentrando as melhores oportunidades de educação, lazer, trabalho e cultura.

O pior é que o poder público agiu como um Robin Hood às avessas e tratou de aumentar as diferenças; basta comparar as ruas de Ipanema com as de Campo Grande. A violência, mais presente em áreas mais pobres, contribuiu para aumentar os fossos que dividem a cidade.

Desentortar o Rio é fundamental. Para isso, investimentos devem ser concentrados onde são mais necessários. Obras previstas para as Olimpíadas — principalmente as relacionadas ao transporte, como a transformação dos trens num sistema de metrô — nos dão também a oportunidade de minorar os problemas. O Centro, claro, vai ficar onde está, mas é possível melhorar a integração com subúrbios e fazer com que estes bairros assumam papéis mais centrais.

O melhor do Rio foi gerado graças à convivência de tantas e tantas pessoas de origens e culturas diferentes; é essencial recuperar esta nossa característica. A cidade ficará melhor, mais justa e divertida se soubermos desmontar as barreiras que foram sendo construídas ao longo de tanto tempo.

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