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O tiroteio virtural na Internet


Por Fernando Molica em 15 de novembro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 31/10:

A Internet, com suas caixas de comentários espalhadas por diversos sites e blogs, deve ajudar a poupar muitas vidas. É só notar o grau de violência de boa parte dos leitores. Alguns parecem escrever como quem aperta o gatilho em um tiroteio. Balas em forma de letras saem dispostas a acertar o primeiro que passar por sua frente. Ou seja, tanto melhor que tais tiros sejam apenas virtuais — como mais ou menos proclamou aquele político paulista, ofendem mas não matam.

Os dicionários não seriam capazes de dar conta da variedade de insultos. A interatividade da rede de computadores destampou uma demanda reprimida, a necessidade represada de reclamar, opinar, desancar e xingar. Os fóruns de comentários nem de longe lembram as geralmente comportadas seções de cartas dos jornais.

Ao se julgar atingido por alguma notícia ou comentário, o internauta saca de seu teclado, atira primeiro e nem pergunta depois. Não concorda com nenhuma palavra do que leu e chega a defender até a morte o dever de seu antagonista ficar de boca fechada e de dedos amarrados. Na Internet tudo é rápido, diante de algo que considere absurdo, o internauta, muitas vezes sem se identificar, tende a mandar às favas qualquer escrúpulo de comedimento.

E tome de citações a mães de políticos, de referências nada sutis à sexualidade deste ou daquele personagem. E ai daquele que, num esforço, tenta evitar que injúrias, calúnias e difamações cheguem a público. No mínimo será chamado de censor. Pior é que muitas vezes o que é publicado em blogs anônimos ganha peso de verdade absoluta. A fofoca eletrônica tende a arrebanhar seguidores. Não adianta determinada estatal negar que uma advogada condenada por estelionato tenha sido admitida em seus quadros. Vale o escrito, mesmo em espaço sem qualquer credibilidade.

Mas a possibilidade de manifestação dos leitores precisa ser saudada, foi importante criar algum equilíbrio entre quem produz e quem consome informações. É ótimo que jornalistas e articulistas tenham perdido aquilo que, numa referência à TV, o Muniz Sodré chamou de monopólio da fala.

A Internet ainda é muito nova. Talvez, com o tempo, passada a ânsia de dizer tudo aquilo que ficou guardado por tantos anos, o ímpeto justiceiro seja substituído por uma postura mais democrática e o diálogo se sobreponha à gritaria eletrônica.

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