Pitacos municipais 17 – A medalha de teimosia, o mérito de Freixo, o fracasso da Rede e o espelho dos paulistanos
Por Fernando Molica em 03 de outubro de 2016 | Comentários (0)
Há alguns dias, falei aqui num duelo de teimosos travado entre o Psol (que não aceitou se coligar com o PT no Rio) e Eduardo Paes (que insistiu em manter a candidatura de Pedro Paulo mesmo depois da acusação de agressão à ex-mulher). Aquele que passasse para o segundo turno poderia dizer que não fora teimoso, mas persistente.
Apurados os votos, a medalha da teimosia vai para o atual prefeito carioca, que decidiu escalar um jogador que entrou mancando em campo, ferido pela acusação de agredir a ex-mulher. Paes arrastou o PMDB para uma derrota que se refletiu na diminuição de sua bancada na Câmara Municipal – perdeu oito de suas 18 cadeiras.O prefeito pode até alegar que foi prejudicado pela crise no estado, mas não poderá negar sua responsabilidade no fracasso.
Freixo agora passa por persistente e visionário – ele e seu partido aceitaram o desafio de concorrer a um cargo majoritário com apenas 11 segundos de TV. Ao conquistar a ida para o segundo turno, o Psol provou ser possível fazer uma política que não seja baseada na fórmula tradicional que envolve infinitas coligações em troca de tempo de TV, promessa de cargos e a emissão de tenebrosas notas promissórias resgatáveis após a eleição do protegido.
Num momento em que o PT sofre as consequências do modelo que o levou ao poder, o sucesso de Freixo – ainda que favorecido pela divisão do campo conservador – indica a possibilidade de construção de outros modelos. Vamos ver como isso funciona no segundo turno e, principalmente, na administração, caso o candidato do Psol derrote Crivella.
Por falar em modelos, muito se fala na derrota do PT, mas vale ressaltar também o péssimo desempenho da Rede. O partido de Marina Silva sequer conseguiu eleger um vereador no Rio. Num momento tão radical, em que políticos são cobrados por suas posições, a Rede ciscou pra esquerda, balançou pra direita – e perdeu a bola pro marcador..
A migração da ex-candidata à Presidência para o campo conservador parece ter deixado o eleitor tonto. Ela foi favorável ao impeachment, combatido por alguns parlamentares do partido – no fim das contas, todos acabaram perdendo.
Aqui no Rio,a principal vítima foi Alessandro Molon, que parece ter perdido o voto da esquerda sem conseguir conquistar o apoio do eleitor de centro. A indefinição da Rede ameaça o partido e o desempenho de seus candidatos a deputado em 2018.
Já o Partido Novo, com um discurso radicalmente liberal, quase um contraponto ao Psol, soube delimitar um campo e elegeu um vereador, o que representou uma grande vitória.
E São Paulo, hein? Como disse Caetano em ‘Sampa’, Narciso acha feio o que não é espelho. Mesmo que este espelho reflita apenas a imagem que cada um quer ter de si mesmo.