Rubem Mauro Machado
Por Fernando Molica em 22 de junho de 2008 | Comentários (0)
Escritor e jornalista, vencedor, em 1986, do prêmio Jabuti de melhor romance (“A idade da paixão”), Rubem Mauro Machado publicou no site da ABI este comentário sobre “O ponto da partida”.
O repórter ao lado do corpo
O corpo esquartejado de uma mulher é encontrado junto às pedras do Arpoador, os pedaços acondicionados em sacos pretos de plástico. Ricardo Menezes, boêmio repórter de um jornal carioca, morador do vizinho Leblon, passa a noite ao lado do macabro achado, em companhia do viúvo da vítima e de policiais, em mais um infindável plantão. Durante aquelas horas mortas, balizadas pela lembrança de versos de Nelson Cavaquinho, rememora fatos de seu passado recente ou remoto, sobretudo as incompatibilidades viscerais com a ex-mulher e com o filho e a filha, e reavalia o seu trabalho, o papel social que desempenha.
Com esses elementos simples, o experiente jornalista Fernando Molica constrói o romance “O ponto de partida”, recentemente lançado pela Record. Embora a visão que o personagem-narrador tenha da vida e da profissão seja amargurada, o enxuto romance é de leitura fácil e agradável, temperado com algumas pitadas de humor e farta ironia.
São muito poucas, salvo engano, as obras de ficção brasileiras que têm um jornalista como protagonista ou as redações como ambiente. Isso deve ser um motivo a mais para que a nossa categoria se debruce sobre a reflexão que o livro traz, propiciadora de um bom debate. Ainda que seja obra capaz de prender sem dificuldade também os leitores não-jornalistas.
Não li os romances anteriores de Molica, “Notícias do Mirandão”, que está prestes a virar filme, e “Bandeira negra, amor”, de modo que não posso traçar um paralelo entre eles. Mas a sensação que este “O ponto de partida” me deixa é a de um ficcionista vocacionado em processo de crescimento, que cria uma justa expectativa em relação às suas próximas obras.