Talese constrangido; um Lobo bonzinho
Por Fernando Molica em 04 de julho de 2009 | Comentários (0)
Curioso: na sessão da tarde de hoje, o Gay Talese estava bem mais travado que na coletiva de anteontem. Teve pressa em encerrar o encontro, chegou a mostrar o relógio para o mediador, o jornalista Mário Sérgio Conti. Talvez tenha ficado incomodado com algumas – relevantes – questões apontadas. Pareceu desconfortável ao responder sobre até que ponto a exposição de questões pessoais não seria prejudicial à sua obra, se essa opção não poderia ser de alguma forma comparada à lógica que traz às ruas a intimidade das tais celebridades (no seu próximo livro, vai falar de seus 50 anos de casamento e até de traições cometidas por ele e pela mulher).
Já o velho Lobo Antunes teve uma noite de quase-Chico Buarque. No início parecia rabugento, depois pareceu tomar gosto pela festa. Falou da importância de escritores brasileiros na sua formação, fez vários comentários sobre o ofício do escritor:
. “O bom é quando a mão fica feliz”;
. “Não existe profundidade, mas superfícies superpostas”;
. “Escrever é impossível, se trabalha com coisas, como as emoções, que existem antes das palavras”;
. “Há palavras que existem para não ser usadas. Advérbios de modo, adjetivos”.
Meu coração alvinegro ficou particularmente feliz com o exemplo que ele usou para definir a necessidade de se ter emoção e razão na escrita:
. “Quem quer escrever tem que ter Garrincha e Didi dentro de si.”
No fim, foi aplaudido de pé. Emocionado – sério, o gajo parecia estar a chorar – voltou ao microfone, agradeceu “o carinho, a ternura e a generosidade” e completou com um “que Deus lhes proteja”. Apesar da cara de mau, o Lobo tem coração de manteiga, ó pá.