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Pelé mantém distância de Pelé


Por Fernando Molica em 24 de junho de 2018 | Comentários (0)

Pelé volta e meia era ironizado por se referir a si mesmo na terceira pessoa: em suas nem sempre felizes declarações, ele sempre falava/fala “no Pelé”. O que poderia parecer arrogância é uma demonstração de sabedoria, algo que fica mais evidente diante do egocentrismo desastrado de tantos ídolos pop, jogadores de futebol ou não. Jovens que acreditam mesmo ser aquilo tudo que falam deles, pessoas que estariam além da condição humana, deuses intocáveis, inquestionáveis, donos de todas as razões.

Astro aos 16 anos, campeão do mundo aos 17, Pelé deve ter percebido que não seria fácil ser Pelé, o maior jogador do esporte mais popular do mundo. Ninguém suportaria o peso de ser Pelé o tempo todo. Daí, ele terceirizou o personagem, o fato de seu nome profissional ser um apelido facilitou o processo, ajudou a marcar as diferenças entre o Edson e o Pelé, É como se ele mantivesse uma distância segura do personagem, do “rei de todos os estádios”, do Atleta do Século, do homem que fez parar uma guerra, do jogador que ganhou três das quatro copas que disputou. Até para Pelé, Pelé é uma outra pessoa.

Maradona, mais cultuado na Argentina do que Pelé é por aqui (ninguém criou uma igreja com seu nome), foi um dos que sucumbiram ao peso de ser quem é. Pelé, não. E olha que nosso camisa 10 não reconheceu uma filha, sequer foi visitá-la em seu leito de morte, esteve envolvido naquele caso de desvio de grana destinada ao Unicef. Mas, aí, ele pode alegar que as safadezas foram feitas pelo Edson, não pelo Pelé. Eu, que tanto critiquei as caneladas que ele cometeu fora de campo, uma vez me vi pegando autógrafo do cara. Questionado, respondi que pedira a dedicatória ao grande Pelé, o jogador que mais perto chegou da perfeição, não ao Edson.

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