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Julio Reis (São Paulo, 1863 – Rio de Janeiro, 1933)

COMPOSITOR, MAESTRO, PIANISTA, ORGANISTA, ESCRITOR E CRÍTICO MUSICAL

Julio Cesar do Lago Reis nasceu em São Paulo no dia 23 de outubro de 1863, estudou no Colégio São Luiz, em Itu, e foi para o Rio ainda no século 19. Funcionário do Senado, logo suas composições começaram a ser executadas – em 1883, sua “Ave Maria” para piano e coros – composta quando ele tinha 13 anos – foi apresentada na Igreja do Santíssimo Sacramento. Naquele mesmo ano, “El mundo artistico”, de Buenos Aires, registra a edição da valsa “Inspiração Celeste”, composição “melodiosa e sentimental e que sem dúvida fará bom caminho”. Em 1887, por encomenda do bispo do Pará, d. Antonio de Macedo Costa, Julio compôs uma “Marcha Triunfal” em homenagem ao jubileu do papa Leão XIII e que seria tocada em Roma.

A atividade de compositor e pianista intensifica-se na década seguinte, quando passa a integrar a elite intelectual do Rio de Janeiro – apresentava-se em concertos e recitais, algumas vezes acompanhado do irmão, o também pianista João Reis. Em 1898, sai seu primeiro livro, “Catabile”, que reunia contos, ou, como definiu, “miniaturas em prosa e música”. Artigo publicado no “Jornal do Brasil” em 1936, três anos depois de sua morte, cita que Julio tinha Ruy Barbosa entre seus admiradores. “Teve muitas vezes Julio Reis de improvisar diante do grande Ruy, que o considerava como um dos mais inspirados compositores brasileiros.” Ao noticiar a morte do compositor, em setembro de 1933, o jornal “A Noite”, o classificou de “figura tradicional da cidade”.

O compositor tentou obter uma pensão para estudar na Europa, benefício que acabou não lhe sendo concedido. Chegou a receber, do já então consagrado Carlos Gomes, carta em que manifestava seu apoio ao seu projeto. Datada de 20 de novembro de 1890 e reproduzida em artigo de jornal, em 1896, pelo também compositor Frederico Mallio, a carta diz:

Meu caro Julio Reis.

No desempenho da missão que o destino me impoz, de animar e proteger a todos os que tem talento e estudam , como você, tenho o maior prazer em aprovar a tua idéia de ires para a Europa completar os teus estudos, certo como estou de que, ‘vendo e ouvindo’ os grandes mestres virás a ser um artista que saberá honrar o nosso querido Brasil.

Resolve-te o quanto antes e recebe as saudações do sempre teu collega sincero.

A.Carlos Gomes

Julio Reis dedicaria a Carlos Gomes a valsa “Odaléa”, que seria impressa pela Casa Röder, de Leipzig. Na edição do “Jornal do Brasil” de 27 de fevereiro de 1892, o crítico Alfredo Camarate classifica Julio Reis de “músico fértil e produtivo” e diz que “Odaléa” é uma valsa “muito bonita e brilhante”. Frederico Mallio cita que Julio Reis, na época, publicara mais de 200 composições. Segundo ele, o compositor “não se filiou a escola alguma existente, seu estilo é a sua personificação, é aquilo que ele sente no seu pulsar febril de verdadeiro gênio que não imita não plagia”.

Já no século 20, Júlio Reis, sem abandonar a produção de valsas, polcas, mazurcas e tangos brasileiros, passa a compor para orquestra. Inicia também a carreira de crítico musical em jornais como “O combate”. A atividade como crítico leva à publicação de livros, entre eles, “À margem da música” e “Música de pancadaria”. Polemista, foi um grande crítico das mudanças introduzidas na música de concerto. Em seus artigos e livros, enumera críticas a compositores como Scriabine, Debussy e Rimsky-Korsakov. Entre suas provocações, escreveu:

Só Scriabine é grande, e Debussy é seu profeta.

Para JR, Debussy traduzia em música “o sono e o vozerio dos sapos num charco; revela as confidências de um casal de cegonhas; e reproduz o mutismo filosófico de um orangotango em êxtase ao aparecimento da lua nova”.

Em 1914 conclui o poema sinfônico “Vigília d´armas”, para 42 instrumentos, que estrearia no ano seguinte no Theatro Lyrico. Em 1920, dá início ao projeto que se constituiria em sua maior frustração. Consegue do escritor português Julio Dantas a autorização para transformar em ópera sua peça “Sóror Mariana”. JR obtém do Congresso Nacional uma dotação de 30 contos para a montagem da ópera – quantia que nunca viria a receber. As dificuldades fizeram com que ele não chegasse a orquestrar a ópera: compôs apenas a melodia básica e as partes dos cantores.

Em 1923, uma vitória: sua ópera “Heliophar” estreou no Palácio das Festas como parte da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil. O programa incluiu apresentações de obras sinfônicas de sua autoria, entre elas, “Vigília d´Armas” e “Caravana Celeste”. Julio Reis morreu no dia 20 de setembro de 1933, no subúrbio de Piedade, no Rio de Janeiro. Durante anos, seu filho Frederico Mário dos Reis tentaria obter do governo brasileiro a liberação da verba aprovada em 1915 e que permitiria a conclusão e a encenação de “Sóror Mariana”. Frederico Mário morreu em 1992 sem realizar o sonho de seu pai.

Dezenas de partituras editadas de Julio Reis estão arquivadas na Biblioteca Nacional, que deixou também partituras manuscritas, como as abaixo listadas.

  • “Heliophar”, ópera em um ato, libreto de Manuel Tapajós Gomes.
  • “A caravana celeste”, poema sinfônico.
  • “Vigília D´armas”, poema sinfônico.
  • “Sóror Mariana”, ópera em um ato com libreto de Júlio Dantas (partituras para piano e vozes – solistas e coro).
  • “Serenata de Pierrot”, para orquestra.
  • “Serenata burlesca”, para diversos instrumentos.
  • “Cenas orientais”, para diversos instrumentos.
  • “Serenata”, para canto e piano
  • “Ave Maria”, para voz (mezzo soprano) e órgão (composta em 1883, quando JR tinha 17 anos de idade).
  • “A canção de Daphnis”, para flauta e piano (primeira obra da série “Poemas do Luar”.
  • “O viático – esboço de um poemeto”, partitura para piano.
  • “Marília de Dirceu” , para piano e duas vozes.