Coisas do mercado, Paulinho
RIO DE JANEIRO _ Seis artistas foram chamados para protagonizar o show em homenagem a Tom Jobim que marcou o réveillon na praia de Copacabana: Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Gal Costa, Milton Nascimento e Gilberto Gil.
Cada um recebeu R$ 128 mil. Menos Paulinho, que ficou com R$ 35 mil. Convidados para encerrar a festa, Jamelão e integrantes da Mangueira receberam R$ 48 mil.
O cachê de R$ 128 mil é até exagerado para um show coletivo, em que cada um cantaria poucas músicas. Mas a polêmica ficou em torno da diferença entre os valores.
Triste, Paulinho alega ter sido informado de que todos receberiam o mesmo cachê. Pragmático, Gil falou sobre ”política de preço” e existência de um mercado que ”infelizmente” diferencia o valor de cada artista.
Entre os organizadores, ninguém assumiu a razão da diferença. Fica então a suspeita de que Paulinho recebeu uma quantia proporcional ao seu valor de mercado. Afinal, seu último disco foi lançado há mais de cinco anos.
Tá legal, mas é meio difícil aceitar o argumento: os outros cinco protagonistas têm o mesmo preço? Pela repercussão de seus últimos shows e discos, Caetano e Gal teriam direito de receber mais que Milton.
Outro problema: todos _inclusive Tom Jobim_ celebrizaram-se pela qualidade de seus trabalhos, não pela capacidade de vender discos. Se os cachês fossem baseados apenas nesse critério, os Mamomas Assassinas deveriam cobrar mais de R$ 1 milhão por show.
Não tem jeito: vai ser difícil apagar a deselegância com Paulinho e a impressão de que, como ele mesmo já cantou, sambista não tem muito valor nesta terra de doutor.
Mais chato ainda foi isso ter acontecido com um artista que sempre viu seu nome ser associado à palavra elegância. Herdeiro direto de sambistas como Cartola e Nelson Cavaquinho, ele, ao longo de sua carreira, soube resistir aos modismos do mercado que agora, vingativo, tenta colocá-lo em seu suposto devido lugar.
Por último, não dá para resistir à tentação de, mais uma vez, citar o próprio Paulinho: durante o nevoeiro, o negócio é levar o barco devagar. Ou melhor: o jeito é criar um novo samba, sem rasgar a velha fantasia.