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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

21 de junho de 1989


Por Fernando Molica em 22 de junho de 2010 | Comentários (0)

Acabei de chegar do lançamento do livro que conta a história de minha Epopéia, da grande libertação, da ressurreição, da fuga do Egito. O livro 21 depois de 21, de Paulo Marcelo Sampaio e de Rafael Casé, narra a noite gloriosa, o 21 de junho de 1989, quando o Botafogo voltou a conquistar o título carioca. Feliz que nem Garrincha depois de despachar um João, constatei que estou lá, ao lado de tantos e tantos alvinegros. Eu, que tava lá, no Maracanã. A seguir, a íntegra do texto que – para minha alegria – está em parte reproduzido no livro. E – claro – ninguém cala esse nosso amor.

Se eu estava lá? Claro. Tinha comprado ingresso para arquibancada, mas
como o Chico Santos – que iria comigo ao jogo – ficou preso na redação, acabei
na Tribuna de Imprensa, ao lado do Xico Teixeira e algumas cadeiras acima
do Arthur Dapieve. Por estar na Tribuna tentei manter um comportamento
discreto – no fim do jogo, estava de pé sobre os braços da cadeira. Lembro
que pulei abraçado com o Xico e que o Dapieve – inglês como ele só –
limitava-se a aplaudir o time.

Saí do Maracanã sozinho, comprei uma faixa de campeão e tratei de ir casa.
Não havia táxis ou ônibus. Como morava no Grajaú, fui a pé. Passei pela
Universidade do Chope – havia uma filial no caminho – e segui em frente,
faixa orgulhosa no peito. Ao entrar na Barão de Mesquita, em frente ao
Quartel da PE, olhei em frente e tremi: vi um grupo de uns 30/40 sujeitos,
todos parecendo vestir roupas onde predominavam o preto e o vermelho. Sim,
caraca!, eram eles – todos vindo na minha direção. Havia uma rua à
direita, achei melhor não entrar nela. A fuga poderia provocar uma reação dos
rubro-negros. Fui em frente e passei no meio da turba. Primeira fila,
segunda fila – e, ploft!, a minha faixa de campeão foi arrancada. Alguém
gritou algo – identifiquei a palavra “porrada”. Achei que viraria um mártir do Botafogo.
Foi quando um outro – um rubro-negro sensato, deve ser o
rubro-negro sensato – gritou: “Deixa o cara!” O cara, claro, era eu. Pra
minha sorte, os outros obedeceram. Eu ainda me dirigi ao Sensato e
perguntei por minha faixa. Ele limitou-se a dizer que eu estava no lucro,
que tratasse de sair logo dali. Achei a proposta razoável.

Em casa, fui até o quarto do meu então único filho, que já se tornara
alvinegro. Ele, com dois anos, dormia. Beijei seu rosto com a alegria de
um campeão, com a certeza de que ele não passaria pela angústia de ficar
quase 21 anos sem comemorar um título. Por alguns segundos, achei que cumpria o
desejo de todo pai, o de deixar um mundo melhor para seus filhos.

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