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A apuração não pode parar


Por Fernando Molica em 16 de março de 2015 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, O DIA, 9/2.

Ao revelar que recebia propinas desde 1997, Pedro José Barusco, ex-gerente de uma diretoria da Petrobras, confirmou que a corrupção por lá é anterior ao governo petista. Nenhuma surpresa, o mensalão adotado pelo PT havia sido praticado antes, com o mesmo operador, pelo PSDB mineiro. O mercado de compra e venda de votos no Poder Legislativo e casos como o dos trens adquiridos pelo governo paulista mostram que o financiamento de campanhas eleitorais não detém a exclusividade dos mecanismos de corrupção. Mas a busca de verbas para panfletos, cartazes e programas de TV contribuiu para azeitar a roubalheira, empreiteiras envolvidas no Petrolão aparecem nas listas de doadores de diversos partidos.

Alguns números são intrigantes. Em 2014, o grupo JBS, dono da Friboi, foi campeão nas doações para campanhas eleitorais — destinou R$ 352 milhões para candidatos e partidos, cerca de 30% de seu lucro líquido no último trimestre do ano passado. Do total, R$ 73, 4 milhões foram para Dilma Rousseff; R$ 51 milhões para Aécio Neves. As empresas do conglomerado repassaram R$ 61,2 milhões para 162 candidatos à Câmara dos Deputados que acabaram eleitos. Houve ainda mimos para outros partidos e políticos.

A edição deste mês da revista ‘Piauí’ trata de supostos favorecimentos do governo federal, já no reinado petista, à Friboi: “Entre 2007 e 2009, o BNDES despejou R$ 8,3 milhões na JBS por meio de compra de ações, agora outros R$ 2 bilhões em empréstimos”, diz o texto. Como sócio da Friboi, o BNDES, veja só, acabou se transformando em doador de campanhas. A reportagem conta que, em 2014, dívidas de R$ 1 bilhão da JBS foram perdoadas pelo governo de Goiás. O benefício ocorreu depois de José Batista Júnior, irmão mais velho da dupla que cuida do grupo, ter passado a apoiar a reeleição do governador Marconi Perillo, do PSDB.

O caso Petrobras é exemplar; a punição dos culpados deste escândalo, assustador até para os padrões brasileiros, é essencial para uma mudança nas práticas que minam os cofres do Estado. Mas tratá-la como algo isolado seria útil apenas para beneficiar os que roubam em outros níveis da administração pública. É improvável que o Alberto Youssef fosse um petrodoleiro, cuidasse de refinar apenas o dinheiro roubado da Petrobras. Beneficiado pela delação premiada, ele tem a obrigação de contar o que sabe sobre outras tramoias — a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça não podem deixar de aprofundar essa apuração.

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