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A bomba que explodiu na Serra


Por Fernando Molica em 19 de janeiro de 2011 | Comentários (0)

‘Estação Carioca’ de 19/01, jornal “O Dia”:

Sempre achei que quase tudo tem um limite. Um momento de explosão, em que situações absurdas, acumuladas há tanto tempo, se tornam insuportáveis, impossíveis de serem administradas. Isso vale para a sociedade, para a vida pessoal ou para as relações no trabalho. É aquele ponto em que tudo transborda, quando alguém grita chega e se parte para uma solução.

As UPPs e a ocupação do Morro do Alemão são consequências diretas do esgotamento de um modelo, estávamos ultrapassando o limite do razoável, o poder do tráfico se tornara agressivo e arrogante demais. Ou o Estado partia para uma solução ou comprometeria a própria existência.

A recente prioridade dada à Educação apenas reflete o óbvio. O crescimento do País passou a ficar ameaçado pela falta de mão de obra. Setores que nunca se importaram com a educação pública começaram a perceber que passariam a ter muito prejuízo caso não houvesse uma mudança radical. Sua tomada de consciência social começou pelo bolso.

A tragédia na Região Serrana pode marcar o fim de um ciclo de irresponsabilidade e de oportunismo. Mais fácil do que implantar uma política habitacional foi fazer vista grossa para as ocupações de terra ou mesmo estimulá-las; dava até para posar de político comprometido com as causas populares. Um absurdo que garantiu votos para muita gente. Na lógica do crescimento a qualquer custo, questões ambientais passaram a ser vistas como problemas menores, quase uma fixação de ecologistas desocupados, figuras ridicularizadas, ironizadas, tachadas de inimigas do progresso.
Os desabamentos nas cidades serranas se sucediam a cada verão, mas eram de dimensões muito menores. Mas quem passasse por ali veria o tamanho da bomba que poderia explodir. Era só olhar o crescimento escandaloso das ocupações. A bomba, enfim, explodiu, o tal limite foi atingido.

A chuva foi muito forte, mataria gente em qualquer lugar do mundo. Mas houve mortes demais. Um Estado que tem como investir quase R$ 1 bilhão na reforma de um estádio não poderia ter ignorado, ao longo de muitos governos, o risco pendurado nas encostas. Havia dinheiro para garantir moradia segura para os habitantes da região. Agora, depois da chuva, nascem os projetos, alardeiam-se soluções. Tomara que elas venham, já passou da hora. O complicado será explicar aos parentes dos mais de 700 mortos que a maior parte das consequências da tragédia poderia ter sido evitada.

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