A cidade que virou quartel
Por Fernando Molica em 07 de julho de 2016 | Comentários (0)
Para garantir a segurança de quem virá para a Olimpíada, o Rio será ocupado por 22 mil integrantes das Forças Armadas, pouco menos que os 25.445 soldados da Força Expedicionária Brasileira enviados para lutar na 2a. Guerra Mundial.
A exemplo de outros casos de ocupação da cidade em grandes eventos, a presença dos militares será saudada por muita gente, muitos e muitos cidadãos irão reivindicar a manutenção das tropas por aqui, uma espécie de solução final contra a insegurança que tanto nos afeta.
Não dá pra negar a importância da presença dos soldados, mas é triste saber que precisamos das Forças Armadas para nos proteger de nós mesmos – afinal, bandidos são brasileiros, cariocas, nasceram e/ou foram criados por aqui, dividem conosco as mesmas ruas e praias.
Sim, há o risco de atentados, a presença de delegações e turistas do mundo inteiro é tentadora para terroristas. Mas sabemos que a presença dos soldados é para, principalmente, impedir crimes que se acumulam e se tornam banais numa cidade que se acostumou a ver armas de guerra nas mãos de bandidos – equipamento que só consegue subir os morros graças à incompetência ou cumplicidade de agentes públicos.
A banalização da criminalidade tem a ver também com a incapacidade do Estado de romper com o ciclo que, ano após ano, seduz tantos jovens, meninos e meninas que não veem perspectivas de inclusão e crescimento numa sociedade excludente, autoritária, desigual ao extremo, injusta e racista. O crime tem sido bem mais eficiente neste processo de sedução e de desumanização.
Não é possível, insisto, recusar a presença das tropas federais, mas é preciso admitir que a vinda dos soldados é um novo atestado de nossa falência, de nosso fracasso. Mais uma vez as Forças Armadas são usadas não para combater um inimigo externo, mas para atuar de forma preventiva contra integrantes de seu próprio povo.
Para prevenir uma ameaça interna precisamos de quase tantos militares quanto os despachados para lutar contra fascistas e nazistas. Não é razoável achar que nossa utopia social se resume no sonho de viver numa espécie de gigantesco quartel.