A dura missão de dar palpites
Por Fernando Molica em 22 de julho de 2011 | Comentários (1)
Num dos meus livros, acho que em O ponto da partida, um personagem jornalista reclama dos leitores. Diz que o bom seria trabalhar no jornal de uma instituição de surdos – nenhum deles telefonaria para reclamar. O sujeito, admito, não primava pelo bom humor. Não sou tão radical quanto o personagem; ao contrário, faço questão de responder a todos que me escrevem, para elogiar ou criticar. Só ignoro os que partem para o xingamento ou que não têm coragem de assinar suas broncas.
Na última quarta publiquei, na coluna Estação Carioca, em O DIA, artigo em que abordava alguns pontos relativos à educação no País (reproduzo o artigo abaixo). As reações foram bem diversas: alguns professores concordam com o tom geral dos comentários mas fizeram uma ou outra observação. Outros pegaram mais pesado, concordaram com a defesa de salários melhores para a categoria, mas discordaram de minhas críticas ao que classifiquei de corporativismo da categoria. Enfim, tudo dentro do jogo.
O mais curioso são os leitores que, ao invés de combater argumentos, tentam desqualificar quem os apresentou. Um deles, um professor que enviou sua manifestação para a caixa de comentários do jornal, diz que eu deveria ter ficado quieto. Isto porque, segundo ele, educação não é futebol, “onde qualquer um acha que pode ser técnico”. De acordo com o leitor, como eu não nada saberia sobre educação, não poderia falar sobre o assunto. Este tipo de comentário me assusta. Faz lembrar aqueles militares que, para justificar a ditadura, diziam que o povo não sabia votar. Caramba, se não posso palpitar sobre educação (ou sobre economia ou sobre incentivos fiscais ou sobre administração pública ou sobre futebol), não posso também votar.
Podemos e devemos palpitar sobre tudo – cabe aos ouvintes ou leitores avaliarem nossas opiniões. Além do mais, vale lembrar, os professores são pagos pela sociedade, pelos contribuintes. Como contribuinte, tenho direito de me manifestar sobre o uso que é feito com o meu dinheiro. Eu também pago o salário do professor que quer cassar o meu direito de palpitar, logo, posso e devo dar minha opinião, por mais idiota que venha a ser. Além do mais, educação – assim como segurança pública, saúde, jornalismo e futebol – é um assunto sério demais para ficar restrito apenas aos especialistas. Assuntos de interesse público devem ser debatidos por todo mundo – se abrirmos mão disso estaremos justificando qualquer ditadura. Acho que ainda precisamos aprender muito sobre democracia e sobre o embate de ideias.
Aí vai o artigo:
O fim dos professores
Sei não, mas parece que governos e sindicatos fizeram uma espécie de pacto com o inconfessável objetivo de acabar com os professores. Pelo menos, parecem se esforçar para desestimular qualquer pessoa a se dedicar ao magistério e para diminuir a relevância do profissional de ensino. Hoje é difícil encontrar professores para matérias como Física, Química e Matemática; temo que, daqui a alguns anos, o problema se repita em outras disciplinas.
A expansão da rede pública afundou de vez os salários dos professores. Como, de algumas décadas para cá, filhos da elite e dos políticos passaram a estudar em escolas particulares, os governos se lixaram para o ensino público, o que se refletiu nos salários dos integrantes do magistério. OK, são muitos professores, os aumentos têm que ser repassados para os aposentados, não é fácil pagar bem a tanta gente. As justificativas têm seu fundo de razão, mas servem apenas para legitimar uma espécie de suicídio coletivo: com o arrocho salarial, muitos jovens têm fugido da perspectiva de trabalhar nas escolas e buscam outras profissões. Isto representa uma ameaça para as futuras gerações de alunos, do ensino público e do particular, que precisarão de bons professores. Em breve, teremos que importar mestres.
Já sindicatos tendem a insistir na rotina de greves e se fecham na lógica corporativa. Correm de propostas de avaliação assim como secretários de Fazenda ou de Planejamento fogem de percentuais mais razoáveis de reajuste. Ao agirem assim, representantes do magistério tentam se colocar acima dos problemas do setor e procuram transferir para o Estado e para os próprios alunos a culpa pela baixa qualidade do ensino. Claro que os professores não são os únicos culpados por vergonhosos índices de aprendizado na rede pública, mas eles não podem se eximir desta responsabilidade. Ao propor o boicote a um sistema de avaliação, alguns sindicalistas se revelam conservadores, cúmplices de um sistema que condena pobres a continuar pobres. A melhoria da educação passa também pela cobrança de mais qualidade.
Os professores, que enfrentam tantas dificuldades, têm o direito de lutar por melhor remuneração, mas não podem ignorar seus compromissos com os estudantes, prejudicados por sucessivas greves. Um esforço ainda maior pela melhoria da educação daria mais respaldo à luta salarial e à própria categoria, é só lembrar como foi o apoio aos bombeiros.
Fala Fernando! Não sei se vc se lembra de mim. Fui professor de natação do Julio e do Felipe na Les Petits. Estou te seguindo no twitter e ainda ontem te mandei um texto sobre a Amy Winehouse. Como professor da rede pública (município), afirmo que sua opinião sobre os problemas de nossa classe está correta. E como blogueiro e curioso, assino embaixo suas palavras, defendendo o nosso direito à opinião sobre qualquer assunto. Abração Cláudio
Cláudio Francioni