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A escola que Davi e seus colegas merecem


Por Fernando Molica em 26 de dezembro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 26/12:

Coube a um menino de 12 anos, Davi Eduardo Dias Ramalho, formular a mensagem mais incisiva deste fim de ano. Como foi mostrado na reportagem de Paloma Savedra, do DIA, ele procurou o diretor de uma escola pública de Santa Teresa, para reivindicar o direito de ser matriculado lá. Na avaliação do jovem morador do Morro dos Prazeres, o Ginásio Experimental Olímpico Juan Antonio Samaranch é a instituição adequada para o prosseguimento de seus estudos. Mas a tentativa não deu resultado, ele ficou sem a vaga.

Uma olhadinha no site da escola ajuda a entender a razão da escolha de Davi. Voltada para os quatro últimos anos do ensino básico e focada no desenvolvimento esportivo, a Juan Antonio Samaranch tem ótimas instalações e aulas de 7h30 às 17h30. Seus professores cumprem jornada semanal de 40 horas. É até um erro classificá-la de “experimental”. Esse tipo de experiência, já deu certo em todos os países que levam o ensino a sério: escola de tempo integral que também oferece atividades complementares.

O que deu errado foi a experiência de oferecer uma educação pública precária, com turnos de quatro, três e até duas horas por dia. Uma lógica cruel e excludente, que, aliada aos baixos salários dos professores, parece ter o objetivo de impedir o acesso da maioria da população a um ensino de qualidade. Assim se criou uma escola precária, pior que a paraguaia, como insistia Darcy Ribeiro. Ao formular os Cieps e seu horário integral, ele ressaltava que não inventava nada, apenas fazia o óbvio. Tão óbvio quanto a Juan Antonio Samaranch.

A prefeitura deveria encarar o pedido de Davi com orgulho e constrangimento. É bom saber que a iniciativa despertou em alunos o desejo de frequentar a escola. O problema é que a limitação de vagas reproduz a exclusão que vitima tantos meninos e meninas como Davi. Em 2010, Eduardo Paes sancionou projeto do vereador Jorge Felippe que dá prazo de dez anos para a implantação do turno de sete horas em todas as escolas da rede. A lei é boa, mas tímida. O horário não chega a ser integral e o prazo é longo demais para uma cidade que dispõe de tantos recursos. Os investimentos olímpicos mostram que não há falta de dinheiro por aqui. Davi e outras milhares de crianças não podem esperar: em uma década, terão crescido e perdido a oportunidade de estudar na escola que desejam e merecem.

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