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A esperança dos fogos e o calor da ressaca


Por Fernando Molica em 13 de fevereiro de 2013 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 02/1

Graças ao verão, nosso primeiro dia do ano é sempre abafado. A festa que rola pela madrugada faz com que acabemos acordando mais tarde, hora em que o sol já aqueceu nossas ruas e casas. O resultado é que associo o 1º de janeiro a um certo sufoco. É como se aquele agradável entorpecimento causado pela festa, pela bebida, pelos fogos — e mesmo pela esperança no novo ano — desse lugar à pesada realidade que vem logo depois do primeiro amanhecer. Sensação agravada por alguma ressaca.

Este choque gera uma decepção, mas ajuda a nos trazer de volta para a vida como ela é, sem tantos fogos, beijos, abraços e desejos de felicidade. Uma vida volta e meia abafada por angústias, dúvidas, problemas, falta de grana e até de amor. É como se dormíssemos na Apoteose depois de um desfile e despertássemos na Quarta-Feira de Cinzas.

Mas sempre sobra algum gosto bom de festa: os desenhos coloridos no céu, as explosões, o carinho, os olhares que, apesar de tudo, insistem em apontar para um futuro melhor. Consequências do que o poeta Mário Quintana chamou de “bendito truque do calendário”. A possibilidade que os primeiros dias — o da semana, o do mês e o do ano — nos dão de pensar que a vida não simplesmente continua, mas recomeça. Uma brincadeira que ajuda a recarregar nossas baterias emocionais para que possamos enfrentar desafios, novos ou antigos. Dificuldades que nos atormentam como um velho vazamento no teto ou a necessidade de resolver um chatíssimo problema burocrático.

E, enfim, 2013 chegou. Chegou chegando: a barulheira, os fogos, a praia, o sol que fritou nossos miolos logo pela manhã. Prefeitos e vereadores tomaram posse, jornais falam dos problemas relacionados ao transporte para a festa de Copacabana, dos médicos que deixaram de aparecer em plantões, das mortes nas estradas, dos crimes que, incentivados pela bebedeira, ocorreram aqui e ali. Hoje é dia útil, hora de encarar engarrafamento, trabalho, filas de banco e os aumentos que chegam no vácuo de cada janeiro. Resta tentar impedir que a ressaca encalorada do dia 1º e as obrigações cotidianas travem por completo a alegria e a esperança do Réveillon. E aí vale citar outro poeta, Carlos Drummond de Andrade. Ele acertou na mosca ao dizer que é dentro de cada um de nós que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

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