A imagem que nos interessa
Por Fernando Molica em 03 de agosto de 2011 | Comentários (0)
Coluna Estação Carioca, jornal O Dia, 03/8:
Nosso passado de país colonizado deve ajudar a explicar esta fixação com a imagem do Brasil no exterior. Esta lenga-lenga voltou a ser citada para justificar a aplicação de R$ 30 milhões de recursos públicos na festa da Fifa que deveria ter sido bancada pelo Comitê Organizador Local da Copa. Vale tudo em nome da tal imagem.
É assustador como gostamos de fazer com que estrangeiros acreditem que somos melhores do que somos. Diante dos gringos, não vacilamos em varrer nossa sujeira para debaixo do tapete. Entregamos felizes o nosso ouro e, em troca, recebemos badulaques como espelhinhos e pentes. Adoramos quando eles nos elogiam, dão tapinhas em nossas cabeças e dizem que fizemos tudo direitinho. Subservientes, não vacilamos em destruir nosso estádio mais simbólico, chegamos ao ponto de ir além do que foi exigido pelos donos do futebol mundial. Em 2006, os alemães peitaram a Fifa e deixaram de cumprir determinações que consideraram descabidas. Em Munique, foi preciso fazer um plebiscito para que a população aprovasse gastos na construção de infraestrutura (uma nova linha de metrô, inclusive) em torno de um novo estádio — este, erguido, claro, com recursos privados.
Toda a promoção para o Rio é bem-vinda. Mas não adianta torrarmos nossa grana em publicidade se não oferecermos um mínimo de conforto a quem nos visita. Isto inclui aeroportos, rodoviárias e estradas decentes. Como ter uma boa imagem da cidade se, ao chegar, o sujeito não encontra sequer uma linha de ônibus especial, com espaço para malas, que possa deixá-lo no Centro ou em Copacabana? No lugar do tal ônibus — comum nas grandes cidades, muitas delas ainda têm estações de trem ou metrô no aeroporto –, o turista se vê assediado por taxistas que se aglomeram no saguão.
Para construir uma boa imagem, um país deve ser justo, oferecer educação, transporte público, saúde, emprego, segurança e condições básicas de vida para seu povo. Não faz sentido alardeamos nossas praias e paisagens se, ao desembarcar, o visitante dá de cara com a pobreza das favelas entre o aeroporto e o Centro. A cidade só será boa para o turista se for boa para quem vive nela. Imagens de um Rio com a Baía limpa, sem meninos de rua, sem miséria, sem traficantes armados, sem filas nos hospitais e sem gente caminhando na linha do trem trarão muito mais turistas e investimentos do que a repetição de fotos do nosso querido Pão de Açúcar.