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A médica, o prêmio e os capetas


Por Fernando Molica em 17 de julho de 2015 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, O DIA, 13/7:

Já tenho um candidato, melhor, uma candidata, para o Prêmio Nobel da Paz. É a médica Simone Soares de Souza, aquela que, no início do mês, socorreu um bandido que foi ferido ao tentar assaltar o ônibus em que ela estava. Armados de pistolas e granada, três sujeitos entraram num frescão e anunciaram o assalto. Teriam levado dinheiro e bens dos passageiros não fosse a atuação do policial civil Eduardo Bezerra, que resolveu reagir. Atingido, um dos criminosos caiu no colo da médica.

Passado o susto, Simone notou que estava com a roupa manchada pelo sangue do bandido. Fez então o que deveria fazer, e tentou salvar aquele que ameaçara sua vida e pegara sua carteira. “Ele estava com vida e onde tem vida a medicina tem que atuar, antes de tudo é o ser humano, nós somos seres humanos, e a gente tem que está cuidando um do outro. A gente levanta uma bandeira de paz, então a gente tem que atuar pela paz, pelo outro e acreditar que dá para mudar, dá para melhorar e tinha uma vida ali”, ensinou. Já um PM pisou na perna do bandido ferido e disse que ele iria “ver o capeta de perto”.

Pior é que, no fim das contas, o que surpreendeu não foi a atitude do PM — elogiada por muita gente –, mas a da médica. Chegamos num ponto em que a barbárie é vista como normal, em que boa parte da sociedade acha razoável que representantes do Estado atuem como bandidos. Um tipo de cumplicidade que estimula a violência e crimes como o registrado num vídeo mostrado, semana passada, no ‘Jornal Nacional’, aquele em que um policial atira contra dois jovens que brincavam numa favela. Um deles, Alan de Souza Lima, foi morto.

Quem aplaude o PM que pisou na perna do bandido tem a obrigação de ajudar a pagar os advogados do policial que matou Alan, ele fez aquilo que muita gente quer que ele faça, atirar em quem julgue ser um marginal. Os que comemoram o linchamento de um assaltante no Maranhão parecem esquecer que qualquer um de nós pode ser vítima do que ocorreu com Fabiane Maria de Jesus, que, ano passado, no Guarujá, foi agredida e morta por dezenas de pessoas por ser suspeita de utilizar crianças em feitiçaria.

Veterana vítima de assaltos (já passou por dez), Simone não pode ser acusada de gostar de bandidos. Gosta, sim, de sua profissão, de cumprir seu dever. Estaríamos numa situação bem melhor se todos — policiais, governantes, cidadãos comuns, políticos em geral — fizéssemos o que devemos fazer, e respeitássemos os limites da lei. Seria um jeito de evitar dar força aos muitos capetas que dizem santos por aí.

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