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A pátria não precisa de um salvador


Por Fernando Molica em 15 de agosto de 2013 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA,03q7:

As especulações sobre uma possível candidatura do ministro Joaquim Barbosa à Presidência da República revelam o quanto muita gente insiste em apostar na figura do salvador da pátria. O presidente do STF é citado como presidenciável não por suas posições políticas, por eventuais planos de governo. É lembrado porque passou a encarnar a imagem de incorruptível, de moralizador, de um homem que não se dobra a outros poderosos. Barbosa é citado por não ser político; mais, por ter sido um dos principais responsáveis pela condenação de políticos. É como se fosse alguém maior que todos nós.

Pelo visto, muita gente anda em busca não de um presidente da República, mas de um paizão daqueles de outrora. Rígido, autoritário, inflexível, exigente na cobrança de horários e notas escolares; atento para amizades, namoros e comprimento das saias. Alguém que zele pela nação já que o povo brasileiro — pelo menos, parte dele — se confessa incapaz de cuidar de suas instituições. É como afirmássemos que ainda não somos crescidos o suficiente para debater nossos problemas em busca de uma solução. Precisamos de alguém que nos diga o que fazer.

Tenho lá minhas críticas ao ministro, mas reconheço nele uma série de qualidades e o direito de almejar a um cargo eletivo. Mas não tenho paciência com a negação da política, política aqui entendida como a disputa entre diferentes pontos de vista (corrupção não tem nada a ver com a política; pelo menos, não deveria ter). Se num grupo de seis pessoas não é fácil obter consenso, imagine então quando do debate participam quase 200 milhões de brasileiros. Daí a necessidade de buscar maiorias, de aparar arestas, de negociar. E é aí que entra a política.

O caminho para a diminuição da roubalheira não passa pela eleição de apenas uma pessoa. Até porque, por melhores que sejam o caráter e as intenções do escolhido, ninguém está livre de sucumbir às necessidades de um governo ou mesmo às tentações que se apresentam. A construção de uma política mais digna passa, principalmente, pela existência de instituições capazes de dificultar as safadezas e de punir quem fizer o que não deve. Não precisamos de um super-homem que domine e enquadre as instituições; mas de uma sociedade capaz de criar instituições que impeçam bandalhas cometidas por homens e mulheres. A tarefa de salvar a pátria é de todos nós.

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