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A perversão e o prazer de matar


Por Fernando Molica em 15 de fevereiro de 2019 | Comentários (0)

As imagens que mostram o assassinato do jovem Pedro Gonzaga por Davi Ricardo Moreira Amâncio, segurança do supermercado Extra, revelam o absurdo grau de perversidade em que vivemos. Já seria imperdoável se o assassino “por escusável medo, surpresa ou violenta emoção” (reproduzo as palavras usadas em projeto apresentado pelo governo federal) tivesse matado o rapaz com um tiro, ou com um soco. Mas não, ele comete o homicídio de forma lenta, pensada, brutal, mesmo estando diante de dezenas de pessoas. Parece ter prazer ao se deitar sobre o corpo de sua vítima enquanto aperta seu pescoço. Atua de maneira tão natural que, enquanto mata, chega a discutir com uma mulher que tenta impedir o crime.

Seus colegas de trabalho, seguranças como ele, nada fazem para evitar o crime – um deles, chega a tentar impedir a filmagem da cena. O comportamento dos outros seguranças mostra que perversidade não é apenas do assassino, está generalizada entre nós. Poucas vezes vi alto tão absurdo, tão correspondente à hoje clássica expressão banalidade do mal cunhada por Hannah Arendt. O cara mata porque se acha no dever – mais do que no direito – de matar. Mata, mata, mata é o que ouve todos os dias, é o grito que vem das ruas e dos palácios. Tem que matar, tem que matar, é o que ele repete, é o que ele faz.

Ele está do lado da maioria, dos que gritam, dos que aplaudem chacinas, do lado daqueles que, no lugar de fazer cumprir a lei, registraram seu crime como algo menor, culposo, não intencional. É possível que sequer fosse indiciado se não houvesse imagens de seu crime. Afinal, a vítima era mais uma daquelas que, por sua cor e por sua classe social, precisam provar o tempo todo que são inocentes – muitas vezes, são mortas antes disso. Pouco depois do homicídio já havia a versão, contestada pelas imagens de câmera do supermercado, de que o rapaz teria tentado roubar a arma do segurança (como se isso justificasse seu assassinato). Estamos nos transformando numa sociedade de assassinos, num país que mata por perversão, que tem prazer em matar.Todos que gritam pela morte são cúmplices daquele segurança.

Obs: o site do Globo publicou na noite desta sexta a que Pedro Gonzaga, o jovem morto, morava na Barra, era de uma família de classe média e sofria com a dependência química. Isto apenas reforça que nenhum de nós está livre também da violência praticada por agentes de segurança, públicos ou privados. O grito de morte atrai mais mortes, é óbvio.

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