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A verdade não pode ser barrada


Por Fernando Molica em 15 de março de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 06 de março.

De um modo geral, militares da reserva que esbravejam contra o esclarecimento de crimes cometidos por funcionários do governo durante a ditadura erram — ou mentem — quando dizem defender a imagem das Forças Armadas. A grande maioria advoga por si, são pessoas que não querem que seus filhos, netos, bisnetos, amigos e vizinhos saibam que eles, por ação ou omissão, permitiram a transformação de quartéis em centros de tortura.

Exército, Marinha e Aeronáutica são instituições essenciais ao País. Estão acima de períodos históricos, dos desvios cometidos por alguns de seus integrantes. Não devem ter sua história atrelada ao sadismo dos que ultrapassaram as barreiras da civilidade. Não podem permitir que seus aposentados tratem os brasileiros como idiotas quando insistem em negar a prática sistemática da tortura, os assassinatos e a existência de desaparecidos.

A teimosia também contribui para a glorificação das organizações armadas de esquerda. Mais do que envolvidos na luta pela redemocratização do País, seus integrantes visavam a implantação do socialismo pela via revolucionária. Ao tentarem brecar a história, setores militares desafiam o poder civil, assumem compromisso com a obscuridade e dificultam a discussão dos objetivos e até mesmo de crimes cometidos pela guerrilha, como nos casos das mortes do soldado Mário Kozell Filho e do capitão americano Charles Chandler.

Membros da esquerda armada não ficaram impunes, foram presos, torturados e condenados. Ao contrário de ex-torturadores e de personagens como o coronel Wilson Machado — aquele, o do Riocentro –, veteranos da guerrilha não costumam se calar sobre atos pretéritos, muitos admitem seus erros. Já o silêncio de militares que participaram da repressão é mais enfático do que a sucessão de manifestos coléricos, revela o constrangimento de admitir o que fizeram.
A Comissão da Verdade representa uma grande oportunidade para as Forças Armadas, que não devem se transformar em cúmplices eternas de crimes cometidos no passado. Admiradas pela maioria do povo brasileiro, sairão mais fortes dessa purgação e desse obrigatório acerto de contas. Não podem ficar reféns das atrocidades cometidas durante um determinado período, isto não seria justo com a história das próprias instituições nem com o futuro dos jovens que sonham se tornar militares. Eles têm o direito de receber fardas e espadas livres de qualquer nódoa.

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