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ACM, Roberto Marinho e a reação ao discurso de Délio


Por Fernando Molica em 04 de abril de 2018 | Comentários (0)

“Violento discurso de Délio provoca enérgica reações”. A manchete, em cinco colunas e duas linhas, ocupava o alto da capa de ‘O Globo’ em 5 de setembro de 1984 e tratava de uma das mais importantes crises ocorridas no ocaso da ditadura.

Na véspera, em Salvador, o ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Mattos, desancara políticos governistas que se recusavam a apoiar Paulo Maluf, candidato oficial à sucessão do presidente Figueiredo e já na época associado a diversos casos de corrupção. O grupo, que formaria o PFL, aderira a Tancredo Neves, do PMDB.

Ao lado de Figueiredo e de Maluf. o brigadeiro chamou os dissidentes de “covardes” e “traidores”, condenou os “conchavos com a esquerda incendiária”.

Um dos tais dissidentes, Antônio Carlos Magalhães, ex-governador baiano, não refugou. Soltou uma nota violentíssima, disse que “trair a Revolução de 1964” era “apoiar Maluf para presidente”. “Trair os propósitos de seriedade e dignidade da vida pública é fazer o jogo de um corrupto”, continuou.

ACM lembrou a promessa de Figueiredo de transformar o país numa democracia. Frisou que não se faz democracia com ameaças inúteis, porque o povo não se intimida.”

Ao lado do texto que acompanhava a manchete, o jornal publicou um editorial em que condenava o discurso de Délio, chegava a ironizar suas “metáforas de enigmática interpretação”. ‘O Globo’ ressaltava que o ministro era “autoridade do Executivo e chefe militar” e não líder ou militante partidário.

O caso foi decisivo para consolidar a vitória de Tancredo, do PMDB, na eleição indireta. Reforçou também que os militares haviam mesmo abraçado a candidatura de um político nascido na ditadura e que desde sempre fora identificado com a corrupção. O verno “malufar” era então usado nas ruas como sinônimo de roubar.

Anos depois, repórter da ‘Folha’, conversei com Roberto Marinho sobre o episódio. Ele revelou que ele e o velho amigo ACM haviam combinado os termos da reação ao discurso de Délio.

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