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Acordo político financiado por todos nós


Por Fernando Molica em 21 de junho de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 20/6/12:

Mais chocante do que ver os antigos arqui-inimigos Lula e Maluf trocando salamaleques é saber que nós bancaremos a festa. Sairá de nossos bolsos o financiamento do acordo entre o ex-presidente e o deputado que será preso pela Interpol caso saia do País. O PT buscou a aliança, também desejada pelo PSDB, para ter direito ao tempo de TV do PP malufista na campanha eleitoral, 1min35s. A lei assegura a qualquer partido político o acesso à propaganda eleitoral no rádio e na TV. Mesmo os partidos sem representação na Câmara dos Deputados têm direito a uma fatia desse tempo.

Mas a tal propaganda é gratuita apenas para os políticos, as emissoras de rádio e TV — concessionárias de um serviço público — não ficam no prejuízo. Elas têm direito a benefícios fiscais pela cessão do tempo aos partidos: abatem de seu imposto de renda 80% do valor que deixam de faturar naqueles horários. Nas eleições de 2010, o governo federal abriu mão de R$ 850 milhões em impostos graças à exibição das mensagens eleitorais.

Não satisfeitos com o acesso gratuito aos meios de comunicação, políticos brasileiros deram um jeito de descolar novas vantagens com o benefício. Muitos descobriram que era mais lucrativo vender o tempo de TV para outros partidos do que lançar candidatos que não teriam chance de ser eleitos. Assim, passaram a vender o que recebem de graça. Isso explica o interesse de grandes partidos em alianças com agremiações minúsculas, sem qualquer representatividade eleitoral; os cachos de letras que ornamentam a lista de apoios deste ou daquele candidato representam mais tempo de TV.

No caso do acordo paulistano, tudo indica que a negociação envolveu nomeações. Para apoiar o petista Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, o PP de Maluf teve o direito de indicar um protegido para a Secretaria de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. Em caso de vitória de Haddad, os malufistas também ganharão cargos na prefeitura, onde poderão voltar a implantar suas conhecidas práticas administrativas. Em troca, ofereceram o tempo de TV — algo bem valioso, que justifica até o aperto de mão entre a “ave de rapina que não trabalha há 15 anos” (Lula, segundo Maluf em 1993) e o “símbolo da pouca-vergonha nacional” (Maluf, segundo Lula, em 1984).

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