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Ai, que delícia de dança na guerra


Por Fernando Molica em 04 de janeiro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 04/01:

Ao improvisarem uma coreografia para ‘Ai, se eu te pego’, aqueles soldados israelenses deram uma inusitada contribuição à paz no Oriente Médio. Eles queriam apenas se divertir um pouco, mas, ao transformarem em dança uma simulação de exercício de guerra, lembraram a todos que, antes de mais nada, são jovens; garotos que, como todos nós, amaram ou amam os Beatles e os Rolling Stones — ou a Madonna, o Franz Ferdinand, a Amy Winehouse, o Chico Buarque ou o Michel Teló.

Naquele momento, os soldados vivenciaram uma frase que marcou os protestos contra o conflito no Vietnã: fizeram o amor e não a guerra. É até provável que, naquele mesmo instante, jovens palestinos — que vivem em condições precárias, num país não reconhecido, cercados por um dos exércitos mais poderosos do mundo — estivessem ouvindo e dançando o mesmo hit brasileiro.

Em Israel, o serviço militar é obrigatório para homens e mulheres — 36 meses para eles; 24 meses pela elas (judeus ortodoxos estão livres da obrigação). Desde crianças, os israelenses e seus vizinhos palestinos sabem que vão participar de uma guerra que parece sem fim. Não é lá uma perspectiva muito tranquila para pais e filhos, tanto que movimentos pacifistas e esforços de convivência ganham cada vez mais espaço por aquelas bandas.

Com seus passos desajeitados, os soldados israelenses fizeram um novo e involuntário apelo de paz. Como se gritassem que são apenas jovens, tão jovens. Eles, assim como os palestinos, têm o direito de não serem mandados para matar ou morrer na guerra. Anteontem, numa ótima entrevista ao ‘Roda Viva’, o escritor israelense Amós Oz citou que sua literatura não trata de conflitos entre o certo e o errado, mas de embates entre o certo e o certo — ou seja, do que cada personagem considera ser o certo. Palestinos e israelenses têm seus motivos para a guerra e, principalmente, para a paz. Paz que só será possível quando cada lado entender o que há de justo nas reivindicações do outro.

Como também disse Oz, a maioria dos dois povos admite as concessões necessárias, o complicado é fazer com que suas lideranças tenham a coragem de formalizá-las. Enquanto os políticos não se resolvem, os soldados cansados de guerra brincaram com a delícia do sonho de paz — e, assim, não matam ninguém. Como disse um sujeito no Facebook, Michel Teló até merece uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz.

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