Alfredinho morreu de Brasil
Por Fernando Molica em 02 de março de 2019 | Comentários (0)
Lá no Bip, há pouco, nos perguntávamos sobre causa da morte do Alfredinho. Falávamos de tireoide, disso, daquilo – e, mesmo, do conjunto da obra. Arrisco dizer que ele morreu por não aguentar mais a dureza do país. Morreu por não suportar tanta estupidez, tanto ódio, tanta negação da vida. Alfredinho ressaltava os projetos sociais do Bip, pedia dinheiro para ajudar famílias muito pobres – no banheiro do bar há cartazes, em português e em inglês, que pedem colaboração “pra caixinha”.
Em dezembro, ele demonstrava preocupação com a dificuldade de arrumar um local para fazer comida para a população de rua, brasileiros que, no dia 24, ficavam sem comer: “Os restaurantes fecham na noite de Natal”, frisou naquele seu grito que ficava meio preso na garganta, voz que teimava em não sair direito. Ele alertava que, na noite da ceia natalina, não haveria sobras para alimentar tanta gente. Eu nunca havia pensado que a véspera de Natal seria terrível para os que não têm casa, para os que não têm o que comer. Alfredinho nos lembrava que havia muita gente que dependia de sobras.
Ele morreu hoje, sábado de Carnaval. Morreu – insisto – porque, apesar de tantas broncas, de tantos esporros, era doce demais. O Brasil ficou amargo, duro, insensível. O país ficou de um jeito que os mais sensíveis não conseguem aguentar. Alfredinho morreu de Brasil.