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Amigos e governos


Por Fernando Molica em 22 de junho de 2011 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O Dia, 22/6

A queda do ex-ministro Antonio Palocci começou com a descoberta de que ele, quando deputado federal, comprara um apartamento de R$ 6,6 milhões, valor incompatível com os vencimentos de um parlamentar. Surgiu então a história de sua lucrativa atividade como empresário — nada de ilegal foi provado, mas o peso da suspeita foi tamanho que ele foi obrigado a deixar o governo.

Agora, em meio a dor provocada pelas mortes de amigos e da namorada do filho, o governador Sérgio Cabral vê questionada sua proximidade com empresários como Eike Batista e Fernando Cavendish — este, dono de uma empreiteira que tem seu nome associado a grandes obras, vultosos contratos e imensas desconfianças.

Uma tragédia como a de Porto Seguro impõe respeito e solidariedade. Mas é impossível ignorar que o governador usou o avião de um empresário para participar da festa de aniversário de um empreiteiro. Não há nestes fatos qualquer ilegalidade, seria injusto supor alguma irregularidade envolvendo o governador, mas teria sido melhor que a viagem até a Bahia tivesse ocorrido em um voo comercial. Será que Eike — comandante de grandes projetos no estado e que, portanto, precisa de autorizações e licenças de órgãos do governo — emprestaria o jatinho se o passageiro não fosse o ocupante do Palácio Guanabara? A dúvida não é boa para Cabral, para Eike e para os cidadãos do estado.

Talvez sejamos testemunhas de uma mudança de comportamento da sociedade e da própria imprensa. Não temos, aqui no Brasil, uma tradição de cobrar dos políticos explicações para seu patrimônio. Aceitávamos como razoável que autoridades fossem ricas, mesmo que não tivessem herdado fortunas ou exercido uma profissão lucrativa. Não faz tanto tempo assim, governadores, senadores e deputados políticos tomavam como ofensa pessoal uma pergunta sobre seus salários, alguns ainda acham que não precisam dar satisfações sobre seu patrimônio. Mas o avanço da democracia e as facilidades oferecidas pela Internet mudaram o quadro. Cada vez mais os governos se veem obrigados a publicar seus gastos: ver, por exemplo, quanto a Delta recebeu dos governos está ao alcance de qualquer cidadão.

É triste que parte desta discussão tenha sido gerada por um acidente em que sete pessoas morreram, mas isto não deve impedir o debate. É importante que tenhamos mais clareza das fronteiras que separam o público do privado.

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