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Amor e guerra


Por Fernando Molica em 23 de janeiro de 2009 | Comentários (7)

Os símbolos que marcam a radical mudança na Casa Branca são quase infinitos. Nada menos parecido com Bush do que Obama (ainda bem!). Mas um é particularmente interessante e, talvez, menos óbvio: ao olharmos para o casal Obama temos todos a nítida impressão de que Barack e Michelle gostam de brincar, de fazer suas saudáveis travessuras na cama.

Pode parecer óbvio que isso ocorra num casal ainda jovem, mas, em se tratando de presidência dos Estados Unidos, não é. Pelo contrário: Bush-filho fez uma clara opção por fazer a guerra e não o amor. Durante seus mandatos, a lógica puritana-religiosa foi fomentada; risíveis e mesmo irresponsáveis campanhas pró-virgindade ganharam estímulo, houve um freio na prevenção de DSTs. A abstinência sexual passou a ser o modelo ideal para os jovens, muitos faziam declarações públicas de preservação de sua suposta pureza. Claro que não deu certo, até mesmo a filha adolescente da candidata a vice do McCain apareceu grávida.

Nada nas aparições públicas do casal Bush permitia imaginar que os dois fizessem na cama algo além de orar. Talvez o então presidente fosse edipiano – e seria assustador lembrar do rosto da mamãe Barbara Bush na hora das preliminares. No máximo, George W. poderia chegar nos ouvidinhos da patroa e comentar algo como “hoje nós f. com os iraquianos…”.

Já Barack e Michelle trocam selinhos, olhares e abraços ousados em público, andam de mãos dadas, riem enquanto dançam (num daqueles infindáveis bailes da noite da posse, Michelle parecia dar um pito no maridão que, pelo jeito, havia falado alguma pequena sacanagem ao seu ouvido). Ok que tudo isso pode ser jogada de marketing, um reforço da imagem de mudança. Mas é inegável admitir que houve uma evolução que permite uma arejada naquele ambiente pesado e bélico da Casa Branca – como é impossível não admitir que esse tipo de comportamento gera sinais mais relaxados para a sociedade como um todo, deve ajudar a diminuir a taxa de malucos por aquelas bandas.

Enfim, como se dizia lá pelo fim dos anos 60 e início dos 70, que os Obama façam amor e não a guerra. O mundo agradecerá (como diz meu amigo Aydano: que sejam felizes!).

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Comentários
26 de janeiro de 2009

Meninos, voces já estão grandinhos para acreditar em reis e príncipes encantados, presidentes, então... E como jornalistas, deveriam desconfiar em vez de torcer e ajudar a propagandear esse presidencialismo personalista e cafona dos EUA. Gostaria imensamente que Obama nos surpreendesse além dos clichês. Só isso. Ele sozinho, com sua imagem marqueteira, não vai mudar nada. Se mudar sozinho, é poder demais prum homem apenas. E se for na direção que a maioria de nós gostaria, acaba tomando um tiro. Aliás, ele anda fazendo questão de refazer os passos de Lincoln. Tomara que não precise do ato final. Imagino que por trás da marra e da máscara haja o pai daquelas duas meninas, estas sim, pelos olhares e gestos, parecem acreditar piamente nele. Vocês não. Please...

sergio queiroz
26 de janeiro de 2009

Concordo meu caro Fernando. Também quero afastar da eleição de Obama qualquer esteriótipo ou conceito de super produção hollywoodiana diante da sua imagem e pessoa. Claro que boa parte de seus movimentos, argumentos e discursos sõa milimétricamente pensados. Mas de qual chefe de Estado não é? A áura positiva que o casal Obama trouxe não só para os EUA, mas para o mundo todo com a simples presença na Casa Branca e um pouco da naturalidade de qualquer pessoa que fato valorize a vida já tem sido nosso maior ganho após esses oito anos da desastrosa era Bush. O que vier adiante a lucro. Que bom que chegamos aqui.

Eduardo Freire
23 de janeiro de 2009

Ainda da época da faculdade: uma vez perguntaram ao Tancredo o que ele achava da eleição do Reagan. O mineiro disse o seguinte: "Nada mais parecido com um presidente democrata do que um republicano". Para o bem e/ou para o mal, uma troca tão retumbante mostra a capacidade de adaptação do Império. Mas insisto em achar que melhorou. Pelo menos, insisto em torcer... Ah, o cara não é parente não. Apesar de ser mestiço, jogador de basquete e de não saber dançar (e de levar bronca da mulher por isso).

Fernando Molica
23 de janeiro de 2009

Gostei das observações...

Gabi
23 de janeiro de 2009

Eu também apreendi na faculdade que os EUA são os EUA, se é que você me entende, independentemente da fantasia que vestem de acordo com a conjuntura interna e mundial. E fico estupefaCto, como diria Brizola, com nossas demonstrações de deslumbramento ao menor afago, cosmético que seja, da matriz. Também me incomoda _ e muito_ personalizar o mal em Bush e o bem em Barack. É coisa de filme blockbuster. Que aliás (e não vai nenhum racismo neste comentário) tem que ter agora sempre personagens e heróis de diferentes etnias se quiser atingir grandes bilheterias... No caso Obama, a História vai demonstrar que a vida imita o cinema. De Hollywood, que, ao lado das armas, é que fez da América a dona endividada do mundo. PS: O lado mais simpático do Obama para mim é que ele me lembra você. São irmãos?

sergio queiroz
23 de janeiro de 2009

Grande Sérgio, prazer em vê-lo por aqui. Tudo pode ser falso, mas, enfim, como aprendemos na faculdade: o meio pode ser a mensagem. Acho que, pelo menos, na pior das hipóteses, o Obama transmite uma lógica mais solidária, menos repressiva. Já é alguma coisa. E, na prática, liberou pesquisas com células-tronco, mexeu em alguns bunkers ideológicos do velho Bush (pode ser que faça isso para não mexer em pontos fundamentais, como o Oriente Médio, mas vamos ver). Abraços.

Fernando Molica
23 de janeiro de 2009

Já eu acho cada gesto do Obama milimetricamente estudado. Até os tapinhas na bunda da Michele. Trata-se da ultima megaprodução de Hollywood: o superpresidente negro que vai salvar o império. Como bem disse um artigo nesta semana de posse, Obama discursa maravilhosamente, mas ninguém lembra o que ele fala. É um caso em que "o homem é a mensagem". Na contramão da esperança de um mundo carente, não levo fé.

sergio queiroz