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Aniversário do Rei


Por Fernando Molica em 19 de abril de 2011 | Comentários (0)

Acho que já comentei isso aqui: nunca tremi tanto numa entrevista quanto no dia (uma noite, na verdade) em que me vi pela primeira vez diante de Roberto Carlos. Foi em 1985, no primeiro Rock in Rio (confesso: eu tinha idade para ir como jornalista). O Rei tinha ido lá prestigiar a apresentação de Erasmo Carlos, um show que se transformaria num fiasco graças à reação da plateia metaleira.

Não foi uma entrevista coletiva, apenas a troca de algumas palavras. Mesmo assim deu frio na barriga, as pernas bambearam. Eu estava diante do meu ídolo de infância, do sujeito que, anos depois, eu trataria de rejeitar (aquela fase de gordinhas, mulheres pequenas e baleias era insuportável). Cheguei até a recusar um convite para a estreia de um de seus shows no Canecão. Mas, apesar das críticas que a ele eu então fazia, notei, naquela noite, que não adiantava a lutar contra a presença do RC em minha história, uma história que – anos depois entenderia – faz parte de quase todos nós.

De lá pra cá, eu – como dizem os evangélicos em relação a Jesus – aceitei Roberto Carlos. Não adiantava mesmo tentar esquecê-lo. Acompanhei a agonia e morte de Maria Rita, li o espetacular livro ‘Roberto Carlos em detalhes’. Lembro que fiquei muito emocionado pela leitura – não apenas por passagens da vida do Rei mas, principalmente, pela beleza que o autor, o Paulo César de Araújo, soube ressaltar em suas músicas. Fiquei irritado com a proibição do livro – até desisti de comprar ingressos para um show de RC no Canecão. Não dava para compactuar com a censura a um livro.

Mas o Rei é contraditório, minha relação com ele, também. Acabei indo ao show no Maracanã, em dezembro estava entre as centenas de milhares de pessoas aglomeradas na Praia de Copacabana. E, em março passado, no Sambódromo, eu – ao lado do Maurício Stycer e da Mônica Bergamo – consegui entrar no camarote do RC (por sorte, eu e o Maurício vestíamos azul). Desta vez, não tremi. Conseguimos fazer algumas perguntas (e até soprar uma respostas, é um sufoco entrevistar um sujeito que, a cada tentativa de resposta, fala uns cinco “bicho” e não para de balançar a cabeça). Um sujeito que procura fugir de perguntas – as mais óbvias possíveis, admito – com alguma frase pronta, bem-humorada. Ah, ele também não para de sorrir, um riso meio sem graça. Um rei modesto, baixinho, que – eu nunca tinha reparado – manca um pouco ao caminhar. Um rei afável, que topa posar na janela no Sambódromo diante da minha pequena câmera amadora e que admite só saber sambar com os braços. Um rei que, ao contrário de um assessor, não pede que seja apagada uma foto feita sem que ele tivesse preparado. Um rei que pede para ser fotografado ao lado da filha e do amigo Tom Cavalcante. Um rei que admitiu ser por mim chamado de “meu rei” (é meio ridículo, eu sei, mas era Carnaval, eu nunca teria outra oportunidade de tratá-lo assim). Um rei que não indica a porta da rua para os jornalistas – a tarefa coube a um de seus subordinados. Um rei cheio de histórias tristes para contar – histórias que o humanizam e que tornam sua vida ainda mais parecida com a de monarcas de verdade.

O rei hoje faz 70 anos. Sinal de que eu estou envelhecendo. Detalhes, detalhes. Parabéns, meu rei.

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