Antônio Torres e essa nossa terra
Por Fernando Molica em 03 de setembro de 2010 | Comentários (3)
A Universidade Estadual de Feira de Santana vai promover, nos próximos dias 8 e 9, um caprichadíssimo seminário para discutir a obra de Antônio Torres, baiano do Junco – hoje Sátiro Dias -, autor de livros que carregam a elegância de Didi, a eficiência de Pelé, a criatividade de Garrincha e a complexidade que envolve as relações entre um time e sua torcida. Não é pouco.
Li AT pela primeira vez ainda na faculdade, quando tomei um baita susto ao percorrer Um cão uivando para a lua. Sim, percorrer é um bom verbo para tentar traduzir o impacto deste romance de estreia. Reli-o há poucos anos, o nocaute se repetiu. Neste e em outros livros, AT criou uma obra pra lá de consistente, difícil de ser enquadrada até pelos mais notórios coladores de rótulos.
Seus romances podem ser talvez caracterizados por uma permanente tensão – seu regionalismo conflita com o urbano, com o choque causado pela convivência entre mundos tão diferentes. AT não tem pena de seus personagens, joga sobre eles a responsabilidade de resolver dilemas entre cidade e sertão, lucidez e loucura, delírio e realidade: eles que tratem de se virar diante de conflitos insanáveis, como o que contrapõe civilizações tão distintas, abordadas em seus romances de caráter histórico.
Não dá para se tentar aplicar em AT a lógica academicista tão recorrente que delira diante de supostas transgressões narrativas, que uiva ao perceber tentativas de execução do crime perfeito. aquele que jogará o enredo na lata de lixo da história. Como ocorre nos grandes escritores, em AT, trama e maneira de contá-la fazem parte de um mesmo todo, um todo não monolítico, tenso, mantido vivo pela mão de um autor que não tem medo da ousadia, do salto sem rede.
Algoz e cúmplice de seus personagens, AT também se arrisca na construção de romances que, como no melhor jazz, envolvem e desafiam. A beleza de um tema é logo quebrada pelo risco de um improviso de tirar o fôlego, que faz duvidar da capacidade do músico de, lá na frente, retomar o fio da meada. AT consegue aliar a experiência clássica de construção do romance com uma invejável capacidade de renová-la.
Ou seja, o programão da semana que vem está no interior da Bahia.
NARRATIVAS E VIAGENS DO JUNCO AO MUNDO – 70 ANOS DE ANTÔNIO TORRES
8 e 9 de setembro de 2010
Local: Auditório 1 – Módulo 1 – UEFS
PROGRAMAÇÃO:
Dia 8 de setembro – quarta-feira – Manhã
8h30 – Credenciamento dos participantes
9h Abertura:
A trajetória do escritor – Diálogo com Antônio Torres
Interlocutores: Leni David e Carlos Mascarenhas
Coordenação: Aleilton Fonseca
9h50h – Hora do cafezinho
10h – Mesa: Aspectos temáticos da ficção de Antônio Torres
Coordenação: Adeítalo Manoel Pinho (UEFS)
A expansão das fronteiras literárias no Junco de Antônio Torres
Ivana Teixeira Figueiredo Gund (UNEB)
Visões da terra e canção popular no romance O cachorro e o lobo
Leni David (UEFS)
Sonhos quixotescos e jogos narrativos: atalhos poéticos em Carta ao bispo
Eugênia Mateus de Souza (UNEB).
A desconstrução da identidade nacional na construção de O nobre sequestrador
Benedito Veiga (UEFS)
Dia 8 de setembro – quarta-feira – tarde
13h50 – Entrada no Auditório
14h às 17h – Oficina Literária: “Para gostar de ler e ouvir” – com Antônio Torres
17h – Sessão de autógrafos de livros do autor
Dia 9 de setembro – quinta-feira – Manhã
8h45 Entrada no Auditório
9h – Mesa: “Nosso” Querido Canibal: Narrativa, deslocamentos e imagens
Coordenação: Roberto Henrique Seidel (UEFS)
Hospitalidade e canibalismo na literatura de Antônio Torres
Carlos Mascarenhas (UFPE)
Tradição e contemporaneidade: deslocamentos do narrador em Meu querido canibal
Francisco Assis Miranda Mota (UNIJORGE)
Imagens inaugurais e cenas urbanas: recorrências identitárias em Meu querido canibal
Elvya Shirley Pereira (UEFS)
10h20 – Hora do cafezinho
10h30 – Comunicações: Antônio Torres: ficção, situações e vivências
Coordenação: Rosana Ribeiro Patrício (UEFS)
Essa terra: uma terra de lembranças
Mayara Michele Santos de Novais (PpgLDC-UEFS)
“Essa terra me enxota”: deslocamento e fragmentação do sujeito no romance Essa terra
Edinage Maria Carneiro da Silva (Esp. Est. Lit.-UEFS)
A travessia pela cidade natal e a metrópole moderna em Antônio Torres
Rafaela Giovana Lima Santana (PpgLDC/UEFS)
Identidades fragmentadas – o olhar profícuo Pelo fundo da agulha
Ulisses Macêdo Júnior (PpgLDC/UEFS)
Caminhos da narrativa: uma leitura de O nobre sequestrador
Maria Goreth Figueredo Vasconcelos (PpgLDC-UEFS)
Representação da mulher nordestina no conto “O dia de São Nunca”
Jeane Freitas dos Reis(IC-Fapesb-UEFS)
Dia 9 de setembro – quinta-feira – tarde
13h50 – Entrada no Auditório
14h – Comunicações: Antônio Torres: comparações, diálogos e inserções
Coordenação: Francisco Ferreira de Lima (UEFS)
Sátiros d’Essa Terra releem Antônio Torres, o caboclo setenta
Cristiana da Cruz Alves (PPGCC-UNEB)
Por um pé de feijão e por um pedaço de chão: diálogos entre o conto de Antônio Torres e “Santana quemo-quemo” de Antônio Carlos Viana
Tatiane Santos de Araújo (PpgLDC-UEFS)
O indígena na cultura brasileira: estudo comparativo de Meu querido canibal e A confederação dos tamoios
Ana Célia Coelho (IC-Probic-UEFS)
Cunhambebe ou Peri? Duas faces de um mesmo mito
Andreia Ferreira Alves Carneiro (PpgLDC -UEFS)
A trilogia de Antônio Torres nos intercalços da migração
Amanda Silva (PpgLDC-UEFS)
As representações do sertão nos contos “Por um pé de feijão”, de Antonio Torres, e “O cavaquinho”, de Miguel Torga.
Marcelo Brito da Silva (PpgLDC -UEFS)
15h45 – Hora do cafezinho
16 h – Mesa: O conto de Antônio Torres
Coordenação: Roberto Henrique Seidel (UEFS)
Memória e infância em Meninos, eu conto
Thiago Lins da Silva (PpgLDC-UEFS)
Os móbiles da memória em Meninos, eu conto
Aleilton Fonseca (UEFS)
16h40 – Encerramento: Homenagem a Antônio Torres – Palavras finais
17h00 – Lançamento do livro:
Espaço nacional, fronteiras e deslocamentos na obra de Antônio Torres
(Organizadores: Roberto Henrique Seidel & Cláudio Cledson Novaes)
Sessão de autógrafos de Antônio Torres
Dica cultural inter-regional? vale pela qualidade do autor. Pelo testemunho dos tempos da faculdade. e pela temática = literatura. saudações.
paulo gramadoO seminário foi maravolhoso, AT então, nem se fala. Um homem humilde, sorridente, tão proximo a nós. Depois de conhece-lo pessoalmente minha paixão por ele e por sua obra cresceu muito. abraços
Andreia AlvesGrande Antônio, suas belíssimas palavras ecoam na minha cabeça. que tarde maravilhosas no lendário Edgard Santos.
Marcos