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Arrá, urru, o absurdo é nosso


Por Fernando Molica em 22 de abril de 2013 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 03/4:

O almoço de trabalho chegava ao fim quando meu interlocutor, baiano, citou uma frase de Octávio Mangabeira, ex-governador de seu estado: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente.” Na saída do restaurante, o manobrista resolveu mostrar que nós, por aqui, não ficamos muito atrás nessa história de precedentes e trouxe meu carro pela contramão.

Nossos exemplos de absurdos garantem uma boa disputa com os baianos. A alguns meses da Copa das Confederações, engenheiros e operários correm para tentar aprontar a nova versão do Maracanã. Estádio que, depois de perder o título de maior do mundo, pode disputar vaga no Guinness, o livro de recordes, como o mais reformado da Terra. Parece aquelas mulheres que, depois de tantas plásticas, têm dificuldades de encontrar partes fundamentais de sua anatomia.

Não bastasse o bota-abaixo no Maraca, o governo estadual resolveu que a privatização do estádio só seria possível caso houvesse a construção de dois edifícios-garagem, monstrengos que podem chegar à altura de um prédio de sete andares. Para viabilizar essas obras, não previstas nos planos originais de reforma do estádio, determinou a demolição de duas instalações esportivas importantes — o Parque Aquático Julio Delamare e o Estádio de Atletismo Célio de Barros. Isso, antes de fazer o projeto dos edifícios com as vagas, tarefa que caberá ao concessionário do Maracanã. Ou seja, três anos antes da Olimpíada, dois centros de treinamento e de competições dos mais nobres esportes olímpicos serão derrubados. As instalações que os substituirão sequer foram projetadas. Ainda há o risco de, no futuro, o Iphan não aprovar a construção dos tais edifícios-garagem no entorno do Maracanã, um bem tombado (tombamento desmoralizado pelo pelo próprio Iphan). Ou seja: poderemos ficar sem os estádios e sem as vagas.

Para aumentar nossas chances na briga de absurdos com os baianos, vale lembrar problemas em três dos principais palcos do Pan: o velódromo será desmontado, o Parque Maria Lenk foi vetado para a natação olímpica, e o Engenhão acabou interditado. Às vésperas da mais importante competição esportiva internacional, atletas estão sem ter onde treinar, e o público não sabe onde verá as competições. Até agora, não há culpados nem presos. Desculpe, Mangabeira, a precedência é nossa.

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