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As vaias e o paraquedas de Temer


Por Fernando Molica em 15 de agosto de 2016 | Comentários (0)

Depois de se esconder na abertura da Olimpíada – seu nome não foi anunciado e sua imagem não apareceu nos telões do Maracanã -, Michel Temer, pelo que diz a ‘Folha’, não irá à cerimônia de encerramento do conjunto de competições.

Uma decisão tomada pelo medo de voltar a ser vaiado. Mais do que fugir das vaias, ele, arrisco dizer, tenta escapar do papel que exerce e dá munição para os que questionam a legitimidade de sua presença no Palácio do Planalto.

O problema maior não é o fato de ele ocupar a Presidência durante o afastamento, por enquanto provisório, da titular do cargo – esta é uma possibilidade prevista pela Constituição. O que compromete a presença de Temer no Planalto é o fato de ele ter conspirado de forma aberta para defenestrar sua companheira de chapa.

Ao apresentar, um ano depois de reeleito para o cargo de vice, um programa de governo (o documento ‘Uma ponte para o futuro’) em tudo diferente daquele apresentado por sua chapa, Temer rompeu o compromisso assumido com os eleitores, e passou a articular a derrubada de Dilma.

Temer transformou o impeachment de Dilma numa eleição indireta para presidente. Não se tratava apenas de afastar uma chefe de governo acusada de desrespeitar o orçamento, mas de empossar um político que se propunha a fazer o oposto do que, um ano antes, havia prometido fazer.

É inevitável comparar a atuação de Temer no impeachment de DIlma com a de Itamar Franco no processo que resultou no afastamento de Fernando Collor. O então vice-presidente não operou para derrubar seu companheiro de chapa, não ofereceu cargos em troca de votos – pelo menos, não de forma aberta. Ao assumir, sequer tinha nomes para seu ministério.

Seguro de sua legiltimidade na Presidência, Itamar não precisou se esconder e teve condições de fazer o gesto ousado de convidar o sociólogo Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda e de bancar o lançamento do Plano Real.

Fica a pergunta: como que um presidente que teme vaias e deixa de comparecer ao encerramento de uma Olimpíada realizada em seu país terá condições políticas de propor reformas da previdência e da CLT, mexer na remuneração de aposentados e, ainda por cima, retirar a obrigatoriedade constitucional de aplicação de determinadas receitas em saúde e educação? Vale lembrar que a população não foi chamada para opinar sobre essas mudanças tão radicais.

Na abertura da Olimpíada de Londres, um vídeo bem-humorado deu a entender que a Rainha Elizabeth II chegara ao estádio de paraquedas. Ao procurar fugir do público, das vaias e da própria imagem, Temer, de forma simbólica, assumiu que usou o mesmo artefato para aterrissar, não na Tribuna de Honra do Maracanã, mas na Presidência da República.

Obs: Mesmo vaiada e xingada na abertura da Copa, Dilma cumpriu seu papel e foi ao encerramento, no Maracanã, onde voltou a ser hostilizada. A Copa, vale lembrar, ocorreu meses antes da eleição presidencial.

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