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Belas crueldades


Por Fernando Molica em 19 de março de 2016 | Comentários (0)

Hoje de madrugada, num desses irresistíveis botequins dos mais vagabundos, o velho homem de imprensa Leandro Resende, pouco antes de ser conduzido de forma coercitiva ao lar, cantarolou versos que estão entre os mais cruéis da história da humanidade. São os que fecham a belíssima ‘Morrendo de saudade’, de Nei Lopes e Wilson Moreira. Como diz o Boechat, tirem as crianças da sala:

A saudade é um punhal
Cravado até o final
No peito de quem ama

Foi o mote para lembrarmos de outras crueldades, como aquela que esparrama sangue e lágrimas em ‘Rugas’ (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Ari Monteiro):

Finjo-me alegre
Pro meu pranto ninguém ver.
Feliz aquele que sabe sofrer

“Feliz aquele que sabe sofrer” é bom demais, o drible que é aplicado no lugar-comum do feliz é quem sabe viver é algo absurdamente espetacular.
E aí, animados, voltamos para Nei Lopes, um dos mais importantes compositores de nossa música – portanto, da música mundial. No ‘Samba do Irajá’, ele dispara:

Sensação de na verdade
Não ter sido nem metade
Daquilo que você sonhou

Calma, nada de pular pela janela, nada de propor delação premiada, já vou terminar a maldade. Nos despedimos chamando de volta o Nelson Cavaquinho, que, com Alcides Caminha e Nourival Bahia, assina ‘Notícia’. No samba, o narrador diz a um amigo que sabia que tinha perdido a jovem mulher para ele. E conta como fizera a descoberta.

Guardei até onde eu pude guardar
O cigarro deixado em meu quarto
É a marca que fumas
Confessa a verdade, não deves negar

Bom sábado a todos.

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