Bernardo
Por Fernando Molica em 09 de maio de 2023 | Comentários (0)
Costumo evitar os eufemismos que tentam, inutilmente, amenizar a ideia de morte – verbos como falecer e partir. Mas, no caso do querido amigo Bernardo de La Peña, é justo dizer que, hoje, ele descansou.
De seus 48 anos, 19 foram marcados por sua luta contra a doença, um tumor no cérebro que começou benigno e que evoluiu para um câncer. Nesse período, Bernardo brigou muito e procurou aproveitar cada minuto de vida. Submetido a cirurgias, passou por um longo período de coma, mas, ao se recuperar, não deixou de trabalhar, namorar, casar, descasar.
Mesmo em momentos de maior fragilidade, em que era obrigado a usar cadeira de rodas e andar com acompanhante, não deixou de chamar os amigos para almoçar ou para “tomar um chope” – e olha que ele não bebia. Ele, um cara sempre alegre e otimista, não tinha problema em demonstrar suas limitações, confiava que sairia daquela situação.
Aos poucos, teve que abrir mão desses encontros e do prazer de cavalgar, ele que adorava cavalos. Mas nunca abandonou a luta pela vida. Na quinta passada, com Bernardo já sedado, sua mãe, Denise – outra grande lutadora – me disse (ela é médica) que pacientes com doenças semelhantes morrem em poucos anos. Bernardo não deu mole, brigou muito para continuar a viver, e de forma intensa.
Já enrolado com a própria doença, encarou a luta pela recuperação do pai, o também jornalista José de La Peña, vítima de um acidente de carro que lhe deixou muitas sequelas – ele morreria em 2019.
Os problemas de saúde e a morte do pai – que fora proprietário de uma assessoria de imprensa de porte bem razoável – tiveram consequências também para as finanças do Bernardo, que encarou o desafio como sempre, e tratou de buscar mais trabalho.
Ótimo jornalista, vencedor de dois prêmios Esso, autor de dois livros – um deles escrito com Gerson Camarotti -, Bernardo trabalhou no Globo, Estadão e participou da frustrada tentativa de volta do Jornal do Brasil.
O cara foi fundo, na vida pessoal, nos amores, no trabalho, no carinho com parentes e amigos, na briga pela vida. Agora – e é inevitável dizer – ele descansou. Abraço grande na Denise, nas irmãs do Bernardo, nos seus tantos e tantos amigos.