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“Brasil intolerante e desigual”


Por Fernando Molica em 25 de agosto de 2023 | Comentários (0)

Ler “Náufragos” foi como sentar em um banquinho em uma rua muito movimentada e observar as pessoas caminhando, a vida acontecendo. Sabe quando entendemos olhares alheios, ouvimos trechos de uma conversa ou até ficamos pensando em dramas para desconhecidos que acabamos de ver?

Em formato de contos, Molica desenvolve pequenas histórias sobre pessoas, um taxista, um funcionário administrativo, um morador de rua, uma jovem aproveitando a vida… É como um aglomerado de vozes em um dia a dia, comum, injusto, brasileiro. Em alguns contos conhecemos esses sujeitos de forma mais distante, outras mais íntimas. Acredito que a conexão entre todos os contos é o desconforto – financeiro, amoroso, político, etc. – que enfretam todos os sujeitos. Ainda que por tensões diferentes, todas resultam na solidão e em algum nível de descontentamento.

O interessante é que identificamos as motivações desses sentimentos por estarmos inseridos, também, nesta realidade. O plano de fundo do livro é um Brasil intolerante e desigual que aflinge a todos, sem restrição. Aqui, a linguagem exerce papel fundamental, porque somos deslocados para a perpectiva até daqueles sujeitos mais desagradáveis e, através de poucas palavaras, elaboramos a persona de muitos conhecidos.

Algumas passagens me lembraram a escrita de Geovani Martins pelo teor de denúncia. Se “O sol na cabeça” for um dos seus favoritos, esse pode ser também!

Essa foi minha passagem favorita:

“Alguns policiais entraram no mato, atrás de mim, queriam mesmo me pegar, não bastava me assustar, me botar pra correr, pra sair dali. O serviço tinha que ser completo. Talvez me acertassem, talvez eu morresse. Mas, se morresse, ia morrer ali, pertinho do quintal da minha avó.”

 

@vi.leituras – Vivian Gomes

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