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Caetano e os riscos de ‘Eu sei que vou te amar’


Por Fernando Molica em 31 de maio de 2021 | Comentários (2)

Foi num improvável show no teatro do Instituto de Educação – faz tempo -, que ouvi, pela primeira vez, Caetano Veloso cantar ‘Eu sei que vou te amar’.

Mais que interpretação, ele fez algo que lhe daria o direito de ser parceiro de Tom e Vinicius nessa que é uma das mais belas canções já compostas.

Caetano usou todas as sílabas, foi ao limite das notas, e chegou ao céu nos agudos do “Eu sei que vou sofrer/ A eterna desventura de viver”.

Ele ressaltou ali a faca só lâmina do amor. Fez isso ao chegar à última fronteira da afinação, divisa entre o paraíso e a tragédia, aquela fração de tempo que separa o gozo da tristeza (la petite mort para os franceses); contradições, esperanças e medos presentes em todos amores.

Ao escalar o everest do pentagrama, ao desafiar a lógica e a segurança, ao correr o risco de desafinar lá no alto, Caetano fez a mais perfeita tradução da expectativa, do prazer, do desespero e dos perigos do amor.

Dizem que o ar rarefeito das grandes altitudes afeta o raciocínio. Foi esse desafio que Caetano encarou, subiu uma montanha quase impossível para poder gritar seu amor.

Mesmo sabendo – os autores deixaram isso evidente – que fosse para anunciar, já na descida, um não tão seguro amor por toda a vida. Nada haveria mesmo depois do topo.

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Comentários
05 de outubro de 2021

Obrigado, desculpe a demora na resposta, o blog está com problemas. abraços.

Fernando Molica
12 de agosto de 2021

Te vi na CNN. Encantada com uma fala inteligentemente sarcáistica. Ae procuro seu insta e encontro o blog. Com o texto sofre as sofrências de Caetano me ganhou 100%. Já sou fã desse comentarista.

Andrade LS