Cartola não pegaria um uber na Mangueira
Por Fernando Molica em 24 de abril de 2023 | Comentários (0)
Ao sair, no início da noite de sábado, de uma ótima roda de samba numa das entradas do Morro da Mangueira, descobri que aquele lugar – Rua Visconde de Niterói, via movimentada que margeia toda a parte inferior da favela – era um não lugar, inexiste para a Uber e para o Táxi Rio.
O aplicativo deixava claro que não enviava carros para aquela área, nenhum taxista cadastrado no programa desenvolvido pela prefeitura aceitou a corrida. O motivo, embora não explícito, era óbvio – o local é visto como perigoso e, portanto, deveria ser evitado.
Para quem não conhece o Rio vale dizer que a Visconde de Niterói é uma rua paralela à linha ferroviária, trata-se de importante ligação entre a Zona Norte e o Centro, muito utilizada por carros e ônibus. Fica entre a comunidade e o muro da estrada de ferro. Não pode ser considerada um lugar ermo.
A preocupação de taxistas e de motoristas do aplicativo é explicável. O morro – berço e sede da Estação Primeira de Mangueira, uma das maiores instituições culturais do país – é um dos que há décadas servem de palco para a lucrativa política de segurança pública criada e mantida para perpetuar o tráfico de armas, drogas e munição. Uma lógica que prevê eventuais e sangrentos confrontos entre quadrilhas e entre estas e policiais.
Dados oficiais, do Instituto de Segurança Pública, revelam que a quantidade registrada de crimes na Mangueira e em bairros vizinhos (Caju, São Cristóvão e Vasco da Gama) não difere muito da verificada em outros locais da cidade (com exceção dos enclaves mais ricos). Entre janeiro de 2022 e fevereiro de 2023 por lá houve 305 roubos de veículos, contra 265 em Maracanã, Praça da Bandeira e parte da Tijuca, áreas que ficam bem perto da favela, do outro lado da linha do trem. Na soma de todos os tipos de roubo, Mangueira e vizinhos chegaram a 1.865, abaixo dos 2.225 ocorridos do lado de lá.
Texto completo aqui, no site do Projeto Colabora.