Coisinha tão bonitinha do papai e da mamãe
Por Fernando Molica em 04 de outubro de 2012 | Comentários (1)
Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 03/9:
A piada é meio antiga. A senhora leva os netos, trigêmeos, à pracinha. Uma amiga pergunta os nomes dos bebês. Orgulhosa, a vovó responde: “O João é o médico; o José é o engenheiro e o Carlos é o advogado.” A história bem que poderia ser adaptada para a política fluminense. Surpreendido no passeio com os netos, um senador (ou governador, ou prefeito) poderia dizer: “Esse é vereador; o outro, deputado estadual; o maiorzinho é deputado federal.”
O fenômeno não é novo mas tem se tornado mais frequente. A cada eleição, filhos, irmãos, cônjuges e até netos de políticos viram candidatos. Com as exceções de praxe, o sobrenome é o principal — senão o único — cartão de visitas desses jovens. Muitos não apresentam propostas, bandeiras, reivindicações; não são porta-vozes de determinados setores da sociedade, não trazem ideias sobre transporte, saúde ou educação. Apenas alardeiam suas certidões de nascimento; adultos, não conseguem se livrar da dependência paterna ou materna. Nesta eleição, um candidato a vereador usa o mesmo nome do pai, seguido do complemento “o filho”; outro, como uma criança, não tem vergonha de dizer, no nome eleitoral, que ele é da mamãe. Parece até que eles não conseguiriam ganhar a vida de outro jeito.
É normal que filhos sigam carreiras dos pais, há exemplos disso em diversas profissões. O problema é que política não é — ou não deveria ser — uma profissão. Claro que o filho de um político também pode seguir o mesmo caminho do pai, mas a banalização da lógica do parentesco indica que muitos deles são representantes, principalmente, de suas famílias, grupos que, não raro, construíram currais eleitorais em cidades ou bairros. A prática cria uma espécie de coronelismo e de clientelismo e facilita a concentração de poderes. Políticos deveriam ter compromisso com ideias e propostas — fidelidade aos pais é algo que diz respeito ao âmbito familiar.
O poder do parentesco colabora para fulanizar a política, dificulta a criação de instituições sólidas e a consolidação dos partidos. Pesquisa recente mostra que pelo menos 12 herdeiros têm chances de conquistar vagas de vereador no Rio. Como eles, no futuro, também deverão tratar de eleger seus descendentes, talvez seja o caso de instalar uma creche na Câmara Municipal. Assim, os bebês já iriam se habituando com o local onde deverão passar boa parte de suas vidas.
Fato e lamentável!
Rita Vitarelli