Colônia
Por Fernando Molica em 12 de outubro de 2011 | Comentários (0)
Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 12/10:
Há pouco menos de um mês, Eduardo Paes assinou um acordo com seu colega Jürgen Roters, prefeito da cidade alemã de Colônia: o documento prevê colaboração e troca de experiências em várias áreas da administração pública. Respeitadas as diferenças entre Brasil e Alemanha — trata-se de um dos países mais ricos do mundo –, bem que o nosso prefeito já poderia ter se inspirado em algumas soluções adotadas por lá.
Colônia, apesar de ser bem menor que o Rio (são cerca de um milhão de habitantes, 16% da nossa população), tem suas coincidências com a nossa cidade: há mesas de bares em suas calçadas, o povo de lá se orgulha de seu Carnaval. Nossa festa é bem melhor, mas perdemos de goleada nos índices sociais e ambientais (o Rio Reno, que corta a cidade, é limpo), na qualidade da cerveja e, principalmente, nos serviços de transporte público.
Para levar sua população de um lado para outro, Colônia fez o óbvio, adotou soluções simples e eficientes. Há ônibus urbanos e muitas ciclovias, mas a estrela do transporte público é a integração do metrô com a rede de bondes modernos, os ‘trams’. Os trilhos desses trens atravessam a cidade, cortam as avenidas também usadas pelos carros. Movidos a eletricidade, não poluem, são confortáveis, silenciosos e rápidos — como ocorre em cidades como Lisboa, os intervalos entre as composições ficam expostos em placas em cada estação.
Os ‘trams’ são tão bons que fica a pergunta: por que a prefeitura não decidiu colocá-los nos corredores expressos que estão sendo construídos? Os futuros ônibus articulados são melhores que os tradicionais, mas, até pelos ganhos ambientais e pelas distâncias a serem percorridas (a Transoeste terá 57 quilômetros), o transporte sobre trilhos seria uma opção mais razoável. A entrega da operação das vias expressas — há também a Transcarioca e a Transolímpica — às empresas de ônibus faz parte do pacote que viabilizou a implantação do Bilhete Único no Rio, mas faltou debater mais o tema. Ao optar pelos ônibus, a prefeitura perdeu uma oportunidade histórica e colaborou para manter uma distorção: por aqui, a maior parte do transporte de massa não é feito sobre trilhos. Por melhores que sejam as intenções do prefeito, não podemos abrir mão de discutir suas propostas, de tentar melhorá-las. Não dá para imaginar que o acordo com Colônia sirva apenas para melhorar a nossa cerveja.