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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

Confesso que não vi


Por Fernando Molica em 08 de julho de 2016 | Comentários (0)

Há dois anos, fui testemunha ocular da tragédia. Sim, estava no Mineirão quando a Alemanha nos sapecou o 7 a 1 (olha o ingresso aí, gente!).

Meninos, eu vi – poderia dizer, e mentir. Vi, até vi – estava lá no setor de imprensa, com os olhos abertos, provavelmente tão arregalados quanto os da ex-primeira-dama da Câmara dos Deputados -, mas não me lembro de quase nada.

Efeito da passagem do tempo? Nada disso. Mesmo durante o jogo eu tinha dificuldades de perceber o que se passava, de entender o que aqueles sujeitos de amarelo estavam tentando fazer diante de um time vestido com uma camisa de péssimo gosto.

Consegui prestar alguma atenção até o momento em que aquele zagueiro cabeludo falhou no primeiro gol. Desisti de encontrar alguma lógica naquilo que ocorria diante do meu nariz depois que o mesmo jogador tentou resolver a parada sozinho. E tome chutão, tome bola nas costas.

Eu olhava, olhava, de nada de nexo. De vez em quando uma bola entrava no gol à minha esquerda. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes – acho que o primeiro tempo terminou depois do quinto gol. Lembro que, entre uma saída de bola e outra, olhei para o colega ao lado, que também trabalhava no jornal. Devo ter feito um muxoxo, perguntado o que se passava, murmurado a velha piada do “anotaram a placa?”. Ele parecia tão apatetado quanto eu.

O início do intervalo serviu apenas para reforçar a angústia, a confirmação de que ainda haveria mais 45 minutos pela frente. Por que não imitar o xadrez e firmar ali mesmo, na beira do campo, um acordo que desse a partida por encerrada? Por que prolongar a tortura, cumprir o ritual de ida aos vestiários, o que Felipão teria a dizer aos jogadores? Nem o arrecua os arlfes pra evitar a catástre poderia ser invocado, a catástre já estava feita.

Dizem que houve um segundo tempo, que a Alemanha marcou mais duas vezes, que o Brasil fez um gol. É o que dizem, é o que vi no placar depois que tudo acabou. Lembrei que tinha que escrever um artigo sobre o jogo, sobre um jogo que eu não conseguia lembrar de ter visto.

Não estava irritado, inconformado, envergonhado – já saí do Maracanã e do Engenhão em condições muito piores. Um 7 a 1 é indiscutível, não dá margem para questionamentos, não admite recursos, embargos declaratórios, impeachment de juiz, pedidos de nova votação na Comissão de Ética. É o que é e pronto, como ouvi de um sujeito em Portugal.

Jantei com colegas de trabalho num restaurante meio caído no centro de BH e fui para a rodoviária (sim, decidira ir pra Minas na última hora, não havia mais passagens de avião). Na volta, ao embarcar, vi que teria um torcedor alemão devidamente uniformizado como companheiro de viagem. Ele, ufa, permaneceu calado durante todo o trajeto.

Devo ter dormido um pouco. Lembro que acordei na Avenida Brasil, ainda meio fora do ar, liguei na Bandnews e ouvi o Boechat dizendo que a seleção perdera de 7 a 1 da Alemanha. Claro que era sacanagem dele e do Zé Simão, aquilo jamais acontecera.

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