Coragem anônima
Por Fernando Molica em 22 de junho de 2011 | Comentários (0)
É raro, mas, de vez em quando, alguns supostos corajosos, todos armados de muitos adjetivos e raras ideias, enviam mensagens ofensivas para o autor deste blog. Nenhuma delas foi ou será publicada. Isto, por uma simples questão de justiça. Minhas reportagens, minhas notas, meus artigos, meus posts e, claro, meus livros são assinados. A cada dia – e nisto lá se vão mais de 30 anos – corro riscos públicos. Acertos e erros são publicados, minha cara está sempre exposta a eventuais aplausos e vaias, meu e-mail é impresso no ‘Informe do Dia’. Daí não achar justo dar espaço à covardia dos que se protegem com o anonimato. Não sou bandido, policial, governante, miliciano, não tenho poderes para urdir qualquer tipo de vingança. Na última vez em que saí no braço com alguém, eu deveria ter uns seis anos de idade – faz tempo, portanto. Então, é razoável exigir a identificação dos que discordem de mim.
No mais, é curioso como a democracia incomoda. Chega a ser assustador o autoritarismo de grupos organizados e que se julgam detentores de todas as verdades e boas intenções. Para eles não há gradações, ou se está do lado do bem (onde eles sempre julgam estar) ou do mal. Partidos que apoiam são sempre ninhos de homens e mulheres honestos, movidos apenas pelo interesse público. Os outros não passam de quadrilhas. As motivações políticas de tais grupos têm caráter religioso, céu e inferno, Deus e o Diabo, fieis e infieis. O chato é que os caras acham que jornalistas têm sempre a obrigação de estar ao lado deles – porque eles, claro, têm a tal verdade.
Sou de uma geração de jornalistas que cobriu as eleições de 1982, quando repórteres iam às ruas trabalhar com broches do Brizola (então candidato a governador do Rio) ou estrelinhas do PT. Isto, mesmo quando iam entrevistar outros candidatos. Uma vergonha, claro, explicável pela carência de democracia e de eleições. Muitos de nós julgavam que, naqueles partidos de esquerda, formado por ex-exilados, ex-presos políticos e sindicalistas não haveria ladroagem ou safadeza. Eram apenas homens e mulheres de bem em luta por um mundo melhor.
A prática jornalística tornou-me mais pragmático. Claro que identifico – ou julgo identificar – políticos mais ou menos comprometidos com interesses públicos e outros mais atentos aos caminhos que levam aos cofres abarrotados de verbas. Foram pouquíssimas as vezes que anulei meu voto – gosto muito do jogo democrático para não exercer meu direito de dele participar. Mas, até por exigência da profissão, tornei-me muito crítico e rígido – não deixo de publicar nada que seja relevante, mesmo que a matéria ou nota vá atingir alguma fonte ou, mesmo, algum político que eu respeite. Não faz muito tempo, uma autoridade ameaçou renunciar ao cargo caso eu publicasse uma deteminada nota contra ela. O engraçado é que eu respeito a tal autoridade – disse isto para ela, inclusive -, acho que ela faz um trabalho muito relevante. Mas disse que não deixaria de publicar a tal história. Isto, em home de uma honestidade jornalística e da busca da necessidade de dar tratamento igual para todos (a nota saiu e a tal autoridade permaneceu no cargo). Lá no ‘Informe’ já bati até no Botafogo – foi duro, mas necessário.
Enfim, estou, como sempre, exposto ao sol e à chuva. Críticas são sempre lidas – respondo a todos os emails que não sejam anônimos ou que não descabam para as ofensas pessoais. E, como diz o amigo Boechat, toquemos o barco.
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