De cabeça erguida
Por Fernando Molica em 09 de abril de 2008 | Comentários (0)
O recém-lançado romance “De cabeça baixa”, de Flávio Izhaki, traz uma ousada e bem-construída teia que fornece muita linha para a pipa dos que gostam de discutir relações entre autor, obra e personagem. Ou melhor, tudo isso aí no plural: autores, obras, personagens. A trama pode até parecer complicada, mas não é: Izhaki conduz a história com segurança, sem perder o fio da meada. O livro trata de outro livro (“Desencanto”) e de seu autor, Felipe Laranjeiras. A partir de um pequeno incidente – a descoberta, numa livraria de Curitiba, de um exemplar do seu livro recheado de comentários nas páginas -, Laranjeiras dá início a um jogo que não deixará de surpreendê-lo. O autor – Laranjeiras, não Izhaki – acaba virando personagem de uma outra história, a ponto de não saber mais qual o seu papel naquela trama. De autor – fracassado, mas onisciente -, passa a personagem, pólo passivo de uma outra história, que não deixa de ser a sua. Laranjeiras (coitado) se sai melhor como personagem – imprevisível, surpreendente – do que como autor. No fim de tudo resta uma incerteza e uma certa angústia que têm muito a ver com a boa literatura – e, claro, com a vida.