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Décio Torres


Por Fernando Molica em 21 de dezembro de 2021 | Comentários (0)

Escritor, crítico literário, professor de literatura da UFBA, poeta (lançou ‘Paisagens interiores’ pela Editora Patuá), Décio Torres publicou no Facebook esse texto pra lá de gentil sobre ‘Elefantes no céu de Piedade’. Aí vai a resenha:

O jornalista Fernando Molica é também um excelente romancista. Seu novo livro, “Elefantes no céu de Piedade”, lançado pela Editora Patuá, conta a história de uma família classe média que mora no subúrbio carioca de Piedade, cuja vida é alterada pela chegada de um primo, vindo do Espírito Santo. Mas não há qualquer interferência divina de piedade do espírito santo sob o destino do primo. O que paira no ar o tempo todo é a presença simbólica de elefantes no céu que todos se recusam a ver, preferindo estabelecer um pacto de silêncio criminoso.

O enredo é narrado sob a perspectiva de um garoto de 11 anos na época da ditadura militar no Brasil. Essa visão de um momento histórico sob a perspectiva infantil nos remete ao primoroso filme de Edgard Navarro, “Eu me lembro” (2005), que se utilizou da mesma estratégia narrativa.

No romance de Molica, o garoto vai, aos poucos, perdendo sua inocência à medida em que vai descobrindo as mentiras fabricadas pelo novo governo, nas quais todos ao seu redor acreditavam. Só após descobrir o envolvimento de membros de sua família nas ações contra a ditadura, o personagem narrador começa a desconfiar da história oficial inventada para o controle da população. Com uma linguagem bastante atrativa ao leitor, por vezes com tons poéticos, o narrador nos conduz a um tempo antigo em que cenários de uma novela escondiam uma luta silenciosa pela liberdade e pela recuperação de direitos civis subtraídos.

Destaca-se, no livro, o capítulo sobre a memória como construção, como exercício de criação e ficção, e a tentativa do escritor de ser fiel aos fatos, mesmo sabendo que eles passam pelos filtros da memória através dos anos: “O passado é vivo, mutável, escorregadio. Não somos, ao reconstruirmos histórias, as mesmas pessoas que as vivenciaram ou testemunharam” (p. 138). Apenas pela leitura deste capítulo já vale a pena lê-lo. Mas a história de Cacá e seu primo sobre um período fatídico de nossa História nos arrebata e justifica toda sua leitura, do início ao fim.

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