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Derrota e paz para os caras do vôlei


Por Fernando Molica em 16 de agosto de 2008 | Comentários (0)

Escrevo sem saber a quantas anda o jogo de vôlei entre as seleções masculinas do Brasil e da Polônia (que já deve ter começado há uma hora). Escrevo, portanto, ainda com base na derrota do time do Bernardinho diante da Rússia.

Confesso que fiquei meio animado com a derrota, da mesma forma que achei bom o time perder a tal da Liga Mundial aqui no Rio. Não que seja um chato estraga-prazeres, um derrotista, um botafoguense esquisito (ô redundância…) que se sente incomodado com sucessões de vitórias.

Nada disso. Até gosto do profissionalismo do Bernardinho e de seus comandados, admiro a seriedade e a dedicação de todos, a maneira como eles focam em um objetivo e o perseguem de forma obstinada. Há dois anos, eles foram um belo contraponto à bagunça daquela seleção de futebol que se arrastou pelos gramados alemães. De uma certa maneira, o time do Bernardinho exerce uma função didática num país tão acostumado a resolver seus problemas de maneiras pouco ortodoxas.

Até aí, tudo bem. Mas, caramba, não consigo imaginar que a vida seja assim o tempo todo. Que pessoas possam viver suas vidas assim tão desesperadas, pilhadas, concentradas. OK, é o trabalho deles. Mas será que precisa ser assim? Alguém aí imagina ter um chefe como o Bernardinho? Alguém aí imagina ser como o Bernardinho? Não consigo ver como todo aquele estresse possa ser sinônimo da tal vida saudável geralmente associada ao esporte.

O calendário do vôlei internacional parece reforçar um pouco o problema. São muitas competições importantes, uma atrás da outra. O futebol tem apenas uma Copa do Mundo a quatro anos, tempo suficiente para que ocorra um descanso, e, mesmo, uma renovação de times e jogadores. No vôlei, não: olimpíadas, campeonato mundial e Liga Mundial se sucedem. Quando uma termina, começa a outra. Mal dá pra comemorar uma vitória: os caras tão lá pulando na quadra, dando peixinho, e vem o Bernardinho dizer que, no dia seguinte, eles têm que começar a pensar na competição seguinte. Que saco!

Talvez o quase imbatível esquadrão brasileiro esteja sendo vítima dele mesmo, de uma certa arrogância; vítima de sua pregação em favor de sacrifícios e esforços sem ter fim. Talvez os atletas sejam agora seus próprios algozes, ansiosos para poderem perder alguns jogos, desejosos da paz só fornecida por uma derrota que nos alivia do peso, do compromisso da vitória.

É meio fora de moda falar em dialética, mas, que seja. Que os valorosos jogadores de vôlei, que tantas alegrias nos deram, possam ter o direito de se divertirem um pouco, longe da figura paterna-autoritária do Bernardinho (por falar nele, fico admirado com o seu filho, o Bruno, levantador do time. Como o rapaz gosta de tomar esporro. Além de ser filho do Bernardinho, resolveu jogar vôlei e acabou dando um jeito de ficar duplamente subordinado ao pai).

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