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Dianne Reeves e Madonna


Por Fernando Molica em 19 de junho de 2009 | Comentários (0)

Sei lá por que razão, saí ontem do show da Dianne Reeves fazendo comparações entre a sensualidade exalada pela cantora no palco com a demonstrada por sua conterrânea Madonna (estive na sua apresentação dela no Maracanã). Dianne é mais velha que a colega (vai fazer 53 anos em outubro, Madonna apagará 51 velinhas em agosto), não tem o corpo malhado (ao contrário, suas gordurinhas ficam bem evidentes), não entra no palco como quem sobe num queijo de boate de strip-tease. Não assume, enfim, a postura vou-te-comer da Madonna. Mas, acreditem, Dianne é mais sensual que Madonna – e aqui não farei qualquer comentário sobre as diferenças entre o talento musical de uma e outra, aí também é covardia.

Tentando sistematizar: a sensualidade de Madonna é por demais produzida, siliconada, armada como a de um filme pornô. Tudo ali tem que dar certo, tudo vai dar certo, tudo é preparado para a grande performance. Isso fica evidente nos corpos – da cantora e de seus bailarinos -, nas roupas, nos cenários. Uma espécie de Disneylândia de um sexo que se mostra provocativo, mas, ao mesmo tempo, seguro porque virtual. O importante não é o sexo em si, a trepada, mas a ilusão do sexo ou da trepada. Madonna anda pegando o modelo Jesus? Deve estar, mas o que isso importa? O importante é que todos pensem que eles andam se pegando. O sexo em Madonna não tem a ver com prazer, mas com a lógica de um produto. Pode ser que ela se divirta fazendo todo aquele sexo que diz fazer – assim como é possível que atrizes pornôs gozem em suas performances diante das câmeras. Mas gozar ali não é importante, o importante é que nós – o público – acreditemos que elas estejam gozando. Assim como, na platéia, não sabemos se Madonna está cantando ou se está apenas fazendo mímica.

Já com Dianne é o contrário. A sensualidade tem a ver com sua própria história, uma história parecida com a de todos nós. Uma história – supomos – cheia de percalços, de idas e vindas, de falhas, de amores que deram certo e de amores que não deram em nada. A sensualidade daquela gorducha apertada numa blusa de malha laranja transparece aos poucos, ao longo das belíssimas interpretações, em movimentos de corpo, em um ou outro comentário. A sensualidade surge como conseqüência, não é pensada para protagonizar o espetáculo (até porque a mulher canta pacas e não tem exatamente o corpo de uma stripper). Sensualidade que tem a ver com histórias meio bobas, engraçadas, como a da sua admiração por George Clooney (com quem trabalhou em “Good Night and Good Luck”). Sensualidade quase adolescente quando ela confessa que adora a canção “Just my Imagination” – bonitinha, mas nada comparável a alguns clássicos de seu repertório. Enfim, uma sensualidade que tem a ver com a vida, com algumas daquelas belas histórias que ela canta.

Conclusão? Sei lá. Como disse lá em cima, nem sei porque estou falando sobre isso. Mas desconfio que, além de mandar muito bem no palco, a Dianne deve fazer um estrago em ambientes mais, digamos, restritos.

Obs: caraca! Fui dar uma pesquisada no You Tube e vi que alguém já postou um vídeo pirata da apresentação da Dianne ocorrida ontem. Aí vai o link (ela canta, justamente, “Just my Imagination”)

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