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Discriminação religiosa


Por Fernando Molica em 21 de novembro de 2009 | Comentários (10)

Ontem, sexta, publiquei uma nota lá no Informe do Dia sobre o assunto. Mas o negócio é tão grave que merece mais barulho. O livro do Nei Lopes (citado no post anterior) faz parte de uma coleção da Editora Língua Geral que tem uma característica específica: como naqueles livros policiais da Companhia das Letras, a parte externa do miolo é colorida.

Só que a operação para dar este colorido não é muito simples, apenas uma gráfica no Brasil faz isso. E a tal gráfica se recusou a fazer isso no livro do Nei. O motivo? A palavra “mandinga” que consta do título do romance (Mandingas da mulata velha na Cidade Nova). A tal gráfica é ligada a evangélicos (ou pertence a religiosos ou faz muitos serviços para eles) e, portanto, não topou fazer um serviço em um livro que, no título, faz referência a algo que eles associam ao capeta.

Isso é um escândalo, uma afronta, algo que poderia ser enquadrado como discriminação religiosa. O fato de a gráfica ser uma empresa privada não lhe dá direito de agir assim. É como um hotel – por ser privado – dizer que não aceita negros (ou judeus ou católicos ou evangélicos ou torcedores do Botafogo). Sei não, acho que a brincadeira está ficando séria e perigosa demais.

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Comentários
05 de fevereiro de 2013

Acho que li direito, Priscila. Você comparou um texto literário com Hitler e Stalin? Colocou o livro do Nei Lopes no mesmo patamar do 'Minha luta', do Hitler! Uau. No caso específico, vale lembrar que discriminação de caráter religioso é crime no país. E acho que está na hora de começar a botar gente na cadeia, lutamos muito pelo fim das discriminações, não dá para aceitar que um discurso religioso possa esconder manifestações, estas sim, fascistóides e totalitárias. Não pode haver tolerância com quem não tolera o diferente. Não defendo que o dono da tal gráfica assine textos de religiões de origem africana, apenas defendo que ele execute seu trabalho, que imprima um texto que, em nenhum momento, vai contra a legislação brasileira. Pela sua lógica, comerciantes têm direito de não aceitar em suas lojas clientes negros, gays, umbandistas, católicos, pobres, japonenses ou mesmo evangélicos, né? Discriminação vale pra todo mundo. Como cada um de nós pode ser discriminado, o melhor é sabermos conviver com as diferenças. A vida fica melhor assim.

Fernando Molica
28 de janeiro de 2013

Lamento mas está TUDO ERRADO, Fernando. Você está defendendo o "argumento" de que é OBRIGATÓRIO que uma pessoa EXECUTE UM TRABALHO, um serviço, que ela considera IMORAL - o motivo não vem ao caso, é um direito DELA assim considerar. Se o serviço em questão fosse encomendado por Adolf Hitler ou Josef Stalin, para um manual de perseguição genocida nazista ou stalinista, a sua "argumentação" seria OUTRA, tenho certeza: mas como se trata de um negócio "politicamente correto", você a usa sob aplausos gerais. Isto se chama HIPOCRISIA, meu caro. A editora tem PLENO DIREITO de se recusar - AFRONTA é pretender OBRIGÁ-LA.

Priscila Garcia
23 de novembro de 2009

Ô se tá! E já faz tempo Fernando. Um mal ainda maior que o Brasil possui, em cima dos males propriamente ditos, é o de praticar os males de forma velada ou de se fingir que os mesmos não são praticados. O preconceito certamente é um dos mais latentes, entre tantos outros. Repugnante.

Eduardo Freire
23 de novembro de 2009

Publiquei na coluna, claro. Mas, como saiu no feriado, a repercussão fica meio limitada. Mas é importante fazer barulho. O caso é muito sério. abração.

Fernando Molica
23 de novembro de 2009

Isso é um escândalo! Vc não deu nota, não?

Marcelo Moutinho
23 de novembro de 2009

Sinceramente, acho muito fracas, apesar de lógicas, as argumentações dos comentários. É o tipo de argumentação que coloca em relevo os dados das "identidades culturais" em primeiro plano. Ou seja, como EU participo de determinado grupo que pensa assim, EU justifico minhas atitudes com respaldo num suposto direito que tenho. Pois discriminação religiosa - assim como de qualquer outro tipo - é prática ilegal. Uma coisa é você ser uma gráfica que só publica livros religiosas e assim o jogo está claro. Outra coisa é você querer inserir-se numa sociedade marcada pela diversidade cultural, étnica e modificar as regras do jogo quando lhe for mais conveniente. Recentemente, a editora da PUC-Rio publicou um livro da pesquisadora Monique Augras com ensaios sobre Zé Pelintra e Maria Padilha entre outros. Não me conste que a Igreja atual ache bacana esse tipo de culto, mas a editora, assim como a PUC-Rio, compreende que a tolerância religiosa e mais importante do que a perseguição religiosa digna da Idade Média da Igreja Católica, que as igrejas neopentecostais vem incentivando.

Giovanna
21 de novembro de 2009

Concordo que seja discriminação -e não preconceito- religioso. Alguns evangélicos acreditam que a mandinga seja uma prática demoníaca e também se deve respeitar sua opinião. A omissão de consciência é uma prática legal e constitucional, portanto, a gráfica está bem respaldada para não imprimir a tal capa. De qualquer forma, é triste ver a intolerância de determinadas agremiações religiosas.

Oswaldo
21 de novembro de 2009

Pois é, Fábio. Sua argumentação é lógica, faz sentido - admito. A defesa da liberdade absoluta de expressão nos leva a alguns impasses. Isso pressupõe a admissão de opiniões racistas, fascistas. As pessoas podem achar que o problema do Brasil está nos negros - ou nos judeus, nos brancos, homossexuais, umbandistas ou evangélicos. O que fazer? Sei lá. Tremo ao admitir qualquer tipo de censura, mas não posso concordar com quem discrimina e reduz o ser o humano. O dono de uma gráfica religiosa pode não aceitar publicar livros ateus ou pornográficos - o que iria contrariar a lógica da existência da empresa. Mas, enfim, não consigo engolir uma gráfica que deixa de publicar um livro porque na capa há uma palavra considerada maldita. Tenhos limites, dúvidas e questionamentos - isso é humano. Mas não consigo achar que o preconceito é razoável.

Fernando Molica
21 de novembro de 2009

"O fato de a gráfica ser uma empresa privada não lhe dá direito de agir assim". Claro que dá. Ou deve o governo sacrossanto obrigar uma empresa propriedade de judeus a publicar um livro clamando pela destruição de Israel? Ou uma de propriedade de ateus a publicar um livro religioso? Deve a Editora Vozes ser forçada a publicar Richard Dawkins? Isso é uma opressão, é obrigar alguém trabalhar para quem considera inimigo. O que defendo não é a jurisdição mais comum no Brasil, eu bem sei, mas o Brasil é o país onde existe lei federal parar por uma placa avisando para olhar se o elevador se encontra no andar antes de entrar. É do direito do dono de uma empresa aceitar ou não qualquer cliente, assim como o dono de uma casa pode aceitar ou não qualquer visita. Por outro lado, essas pessoas também não podem querer depois calar um blog ou jornal que deixa claro o quanto eles são preconceituosos.

Fabio Marton
21 de novembro de 2009

Tenho asco desse preconceito, coisa de gente pequena em humanidade.

Diego Moreira